Governador de região mais infectada da Itália sugere quarentena a brasileiros 

Attilio Fontana reconhece que isolamento da população tem impacto econômico, mas que antes de tudo é preciso priorizar saúde dos cidadãos; governo italiano registra na sexta-feira 969 mortes em 24 horas, um recorde

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Por Paula Acosta
Atualização:

MILÃO - Attilio Fontana é governador da Lombardia, região mais afetada pela pandemia na Itália, e uma das vozes mais ativas em defesa da quarentena para evitar a disseminação do coronavírus. Durante coletiva, na noite de quinta-feira, ele recomendou isolamento aos brasileiros. “Tenho tido contato com um amigo no Brasil e digo a ele para ficar o máximo possível em casa, evitar contato com pessoas e difundir esta mensagem”, disse Fontana. 

 Sobre o impacto econômico da quarentena, ele afirmou que a prioridade deve ser a saúde. “A situação será muito difícil, mas estamos prontos para enfrentá-la e já temos uma série de ações para recuperar a economia. Mas, primeiro, precisamos restituir a tranquilidade e a saúde aos cidadãos”, disse. “Não podemos criar pânico na população, mas devemos advertir que é uma situação séria. É um problema que, para ser vencido, precisa necessariamente da contribuição de todos.”

O governador da Lombardia, Attilio Fontana, durante entrevista coletiva Foto: EFE/EPA/MOURAD BALTI TOUATI

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Ontem, a Itália registrou um novo recorde de mortes em 24 horas: 969 vítimas – até então, o dia mais trágico havia sido o 21, com 793 mortes registradas. O número de casos confirmados também aumentou, superando a marca de 86 mil, e ultrapassou o total da China, onde a epidemia começou, no final do ano passado. 

Apesar do número alto de mortos, o crescimento diário dos novos casos de contágio registrou ontem o menor índice desde 28 de fevereiro. Por isso, apesar de ainda não ter atingido o pico de infecções, Silvio Brusaferro, chefe do Instituto Superior de Saúde da Itália, disse que há sinais de uma desaceleração no número de pessoas infectadas, o que sugere que o ápice da pandemia está próximo.

Até o dia 10, quando entrou em vigor o decreto que colocou todo o país em quarentena, os contágios cresciam a uma taxa média de 25,1% ao dia. Agora, segundo Brusaferro, o índice é de 18,1%. “O nosso comportamento vai influenciar em quão íngreme será a queda, quando ela começar”, disse.

 No momento, as medidas restritivas na Itália estão em vigor até dia 3 de abril. No entanto, o primeiro-ministro Giuseppe Conte decidirá um pouco antes do prazo se a quarentena continuará rígida ou se será relaxada. Se depender da Lombardia, porém, a quarentena será mantida, segundo Fontana. “A população tem respondido bem, mas talvez haja ainda muita gente que não respeite de maneira rigorosa todas nossas recomendações.”

Talvez isso explique a notícia de que a cidade de Codogno, onde foi descoberto o primeiro caso de transmissão interna do coronavírus na Itália, voltou a registrar contágios ontem. O município de 16 mil habitantes, também localizado na Lombardia, havia conseguido zerar os novos casos há cerca de 15 dias. No entanto, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, o prefeito Francesco Passerini anunciou a descoberta de mais seis pessoas contaminadas. “Temos seis positivos a mais. Nos últimos dias, estávamos parados em 268 casos”, declarou.

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As dificuldades que a Itália enfrenta para controlar a pandemia pode ter relação com casos não notificados de contaminação. Um estudo sobre o número de mortes em quatro cidades da Lombardia e do Marche, publicado nesta semana, mostra que elas tiveram, de 1.º janeiro a 24 de março, um crescimento de até quatro vezes em relação ao total de óbitos do mesmo período do ano passado, sem que existisse outra explicação além da pandemia.

O salto em número de mortos pode indicar, segundo os autores do estudo – o médico Luca Foresti, do Centro Médico Santagostino, e o físico Claudio Cancelli, prefeito da cidade de Nembro – que muitas pessoas morreram e foram enterradas sem que se verificasse se elas estavam contaminadas. 

Outros médicos apontaram ainda a possibilidade de o novo coronavírus ter provocado um salto no número de mortes de maneira indireta. Seria o caso de cidadãos que precisaram de internações, por qualquer outra doença, e não conseguiram em razão de o sistema de saúde estar sobrecarregado – morrendo pela falta de atendimento. / COM AGÊNCIAS

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