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Governo aceita ajuste à moda peronista

Por Agencia Estado
Atualização:

O chefe de gabinete de ministros, Chrystian Colombo, anunciou nesta segunda-feira à noite que o governo chegou a um acordo de ajuste fiscal com cinco governadores de provínciais controladas pelo Partido Justicialista (mais conhecido como ?Peronista?), da oposição. Este grupo de governadores aceitou o ajuste apresentado pelo presidente Fernando De la Rúa. Os outros nove governadores recusaram o acordo de ajuste fiscal proposto pelo presidente Fernando De la Rúa, mas simultaneamente apresentaram uma proposta própria de ajuste, que depois de uma rápida negociação, foi aceita pelo governo De la Rúa. Nesta proposta, os governadores peronistas se dispõem, como o governo federal deseja, a reduzir seus déficits fiscais a 0%. No entanto, embora o fim seja o mesmo, os meios serão aqueles que cada província considerar ?mais adequados?. Desta forma, parte das províncias não reduziria os salários dos funcionários públicos e aposentadorias, enquanto outra parte, sim. Além disso, os peronistas conseguiram do governo o compromisso de passar uma série de fundos destinados às províncias e que ainda não haviam sido entregues. O apoio dos peronistas é considerado fundamental para que a tranqüilidade retorne aos mercados. Eles controlam as principais e mais ricas províncias do país. Além disso, na falta de uma liderança peronista nacional, eles dominam seus parlamentares no Congresso Nacional. Com o ajuste à moda própria, os peronistas apresentam independência política, além de conseguir evitar vincular sua imagem com a do governo, que está com a popularidade em baixa. Na véspera, o governo havia realizado o anúncio oficial do ajuste fiscal, que implicará privilegiar o pagamento da dívida externa pública para só depois pagar os salários dos funcionários públicos e as aposentadorias. Entre julho e setembro os salários e as aposentadorias (aquelas acima de US$ 300) terão uma redução de 13%. Para não referir-se a ?El Ajustaço? (o ajustaço), o governo utiliza o slogan mais sutil de ?Déficit Fiscal 0%?. Como demonstração de que a classe política também fará seu ?ajuste?, o governo anunciou a redução dos salários dos cargos públicos em 26% e a determinação que ninguém na estrutura estatal poderá ter um salário superior a US$ 5 mil. De la Rúa decidiu anunciar o ajuste sem contar até aquele momento com o apoio da oposição peronista e muito menos o respaldo de amplos setores da coalizão de governo Aliança UCR-Frepaso. Somente os governadores das províncias comandadas pela Aliança deram o apoio. Mas o resto da coalizão, dominada pelo ex-presidente Raúl Alfonsín, presidente da UCR, partido de De la Rúa, ainda não havia respaldado o pacote. Os analistas afirmam que, com esta decisão, o presidente De la Rúa optou por amarrar seu destino ao do ministro da Economia, Domingo Cavallo, realizando um jogo onde a aposta será de ?tudo ou nada?. A análise é que, a partir de agora, uma eventual renúncia de Cavallo implicaria a queda - nos dias posteriores - de De la Rúa. O presidente, que passa pelo momento mais dramático vivido pelo país desde a hiperinflação de 1989, já não tem como voltar atrás e, assim, declarou uma silenciosa guerra a Alfonsín, o velho caudilho da UCR. O racha entre De la Rúa e seu próprio partido poderia concretizar-se, e, dentro da UCR, já se fala em ?leais? e ?rebeldes?. Nesta segunda-feira, até o fim da tarde, Alfonsín não havia feito pronunciamentos oficiais sobre o ajuste. O ex?presidente teme uma escalada que acabe rachando o partido, algo que não ocorre desde o fim dos anos 50. No entanto, fontes da UCR afirmaram ao Estado que Alfonsín, entre seus aliados, fez menções pouco elogiosas à árvore genealógica de De la Rúa. A centro-esquerdista Frepaso, por seu lado, adotaria a estratégia de afastar-se lentamente da coalizão de governo e não apoiar o ajuste. As lideranças da Frepaso acreditam que, antes do afastamento total, seja possível nas próximas semanas convencer o governo a criar medidas complementares que suavizem o impacto do ajuste, como o estabelecimento de impostos para as empresas privatizadas, que obtiveram lucros significativos na última década.

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