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Governo argelino proíbe protestos

Por Agencia Estado
Atualização:

A proibição de manifestações de rua na Argélia e os ataques frontais contra a liberdade de imprensa não impedem a repetição de atos de violência no país, como a morte, nesta segunda-feira, em uma emboscada, de pelo menos 20 militares em Chleg, a sudeste de Argel, crime, como sempre, atribuído aos muçulmanos radicais. Essa evolução agravou ainda mais a posição do presidente Abdelaziz Bouteflika, ainda sustentado pelos militares, mas cujo poder está cada vez mais fragilizado, sem autoridade para conter as manifestações populares que começaram na região da Cabília e se alastraram pelo resto do país. Só nesta terça-feira, os protestos deixaram 11 mortos, inclusive cinco membros das forças de segurança. O silêncio do chefe de Estado alimenta os rumores sobre sua eventual substituição. O presidente sofre pressões da rua de um lado e dos militares do outro. O único caminho seria a abertura do diálogo e o início das reformas políticas profundas que o país exige, mas os generais que manipulam o poder não aceitam. Todos temem ser varridos pela evolução demasiadamente rápida de um processo de abertura. Para o especialista em mundo árabe Antoine Basbous, diretor do Observatório dos Países Árabes, o regime vai vender muito caro sua pele. Ele não prevê uma alternância tranqüila ou uma abertura gradativa, pois se trata de um país autoritário e seus principais dirigentes preferem lutar até o fim. Muitos dos generais estão demasiadamente comprometidos e temem ter de prestar contas por atos de corrupção e, principalmente, por torturas e assassinatos políticos. Para Basbous, mesmo ferido, o regime pode ainda manter-se por algum tempo, graças aos instrumentos que ainda controla: uma parte considerável dos meios de comunicação, as armas e o dinheiro do petróleo. Atualmente, sete homens-chave, todos generais, com cursos em Paris e Moscou e mais de 60 anos, controlam, nos bastidores, o poder. Deles depende o futuro de Bouteflika. Larbi Belkheir, já reformado, é diretor de gabinete do presidente e um dos homens mais influentes no país. Khaled Nezzar recentemente foi obrigado a deixar às pressas Paris, onde estava para uma série de conferências, por causa de uma queixa apresentada à Justiça francesa contra ele por familiares de desaparecidos. Mohamed Lamari foi um dos primeiros generais responsáveis pelo combate radical aos integristas muçulmanos. Mahamed Toufik Mediene, originário da Cabília e formado pela KGB soviética, é o homem do serviço secreto. Chefia o Departamento de Informação e Segurança. Mahamed Touati, o "intelectual", é o conselheiro de segurança da presidência. Hábil político, mantém contatos com a sociedade civil e certos partidos da oposição. O sétimo homem é Fodil Cherif. Nos anos 90 ele fez, na França, cursos de combate ao terror. Hoje, chefia a primeira região militar.

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