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Bolsonaro diz que mandou Itamaraty cumprimentar presidente eleito do Chile, ‘o tal do Boric’

Foi a primeira manifestação pública do brasileiro em relação à eleição chilena realizada no domingo

Foto do author Eduardo Gayer
Foto do author Felipe Frazão
Por Eduardo Gayer e Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Quatro dias depois de a esquerda voltar ao poder no Chile, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 23, ter determinado ao Itamaraty que cumprimentasse o presidente eleito, "o tal do Boric". “Praticamente metade da população se absteve ou não foi votar. A outra metade foi votar e deu 55% para o tal do Boric”, disse Bolsonaro em transmissão ao vivo nas redes sociais.Foi a primeira manifestação pública do brasileiro em relação à eleição chilena. Gabriel Boric venceu o direitista José Antonio Kast com uma diferença de quase um milhão de votos.

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Boric será o sucessor do presidente Sebastian Piñera, também de direita e aliado de Jair Bolsonaro, após uma série de protestos sociais no Chile, que levaram à elaboração de uma nova Constituição. Ex-líder estudantil, ele é deputado e foi eleito pelo partido Convergência Social.

A derrota de Kast, deputado do Partido Republicano e advogado conservador católico, é mais um indício do isolamento político do governante brasileiro na região. Das eleições mais recentes, a esquerda venceu no Chile, no Peru, na Bolívia e na Argentina, enquanto candidatos de direita se elegeram somente no Equador e no Uruguai. No ano que vem, além do Brasil, haverá eleições presidenciais na Colômbia

Gabriel Boric em seu último dia de campanha, em 16 de dezembro, em Santiago Foto: Rodrigo Garrido/Reuters

Numa atitude que incomoda a tradição do Itamaraty, Bolsonaro chegou a declarar apoio aos candidatos de direita na América do Sul - mas em alguns casos eles evitaram vincular sua imagem à dele. No caso de Kast, o presidente adotou mais discrição. O candidato da direita buscava moderação e votos de centro na reta final da campanha, mas chegou a ser apresentado como “Bolsonaro chileno” na imprensa chilena, em 2018, quando esteve no Brasil acompanhando a campanha do presidente e depois recebeu uma comitiva liderada por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em Santiago.

Passados quatro dias da eleição de Boric, o governo Jair Bolsonaro não havia emitido nenhuma nota oficial a respeito do resultado até esta quinta-feira. A demora intrigou diplomatas chilenos.

De acordo com Bolsonaro, a nota enviada pelo governo somente hoje foi uma determinação sua. “Cheguei de viagem e determinei ao Itamaraty apresentar cumprimentos formais ao presidente eleito do Chile”, afirmou o chefe do Executivo, que retornou hoje de férias de seis dias no Guarujá, litoral de São Paulo. O atraso em cumprimentos a presidentes eleitos em países estratégicos é uma prática incomum na diplomacia. 

“Ao reafirmar a solidez dos laços de amizade e cooperação, o governo brasileiro assinala a disposição de trabalhar com as autoridades chilenas no fortalecimento das iniciativas bilaterais e regionais em prol dos objetivos de desenvolvimento econômico, de defesa da liberdade e da democracia e de respeito ao Estado de Direito”, afirma a nota do governo.

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O presidente eleito do Chile também venceu a disputa entre os chilenos residentes no Brasil. Boric ficou com 62,92% dos votos computados pelas representações diplomáticas do Chile no País, contra 37,08% do rival de direita.

Conforme dados da Embaixada do Chile, Boric venceu em todos os quatro locais de votação: Brasília (37 a 30), Rio de Janeiro (90 a 50), São Paulo (228 a 127) e Porto Alegre (37 a 24). No primeiro turno, o candidato da esquerda chilena liderou no Brasil com 49,76%, enquanto o representante da direita teve 30,67%, o segundo colocado de sete nomes da disputa. 

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