Governo Bush irritado com oposição do papa à guerra

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Por Agencia Estado
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A oposição do Vaticano a uma guerra contra o Iraque não autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU provoca divisões entre os 65 milhões de católicos americanos. Na última quarta-feira, o cardeal Pio Laghi, enviado especial do papa João Paulo II, reiterou a condenação da Santa Sé em um encontro de 40 minutos com o presidente George W. Bush. A guerra "é imoral, injusta e ilegal, a menos que seja endossada pelas Nações Unidas", disse Laghi, um experiente diplomata que foi embaixador do Vaticano em Washington durante a administração do pai do atual presidente. A visita do cardeal a Bush foi parte da pregação que o papa vem fazendo há semanas para evitar um conflito. Recentemente, ele enviou um emissário a Bagdá para pedir a Saddam Hussein que acate sem hesitação a ordem do Conselho de Segurança e se desfaça das armas proscritas em seu poder. Refletindo em parte a posição da Santa Sé, nas últimas semanas a conferência dos bispos dos Estados Unidos emitiu três declarações críticas à estratégia da Casa Branca de ir adiante com seus planos de guerra, mesmo sem o aval internacional. Na Quarta-Feira de Cinzas, João Paulo II pediu as católicos americanos e do resto do mundo que jejuassem e orassem pela paz. A exasperação da administração americana diante da posição da igreja foi refletida em declarações que a conselheira de segurança da Casa Branca, Condoleezza Rice, fez em recente entrevista à revista italiana Panorama, nas quais traçou um paralelo entre a oposição do Vaticano à estratégia americana contra Saddam Hussein à atitude passiva que o papa Pio XII teve em relação ao nazismo e ao fascismo, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. A assessora de Bush disse que tinha dificuldade de compreender a atitude do Vaticano porque "no passado, a não-ação possibilitou a mais imoral das ações". De acordo com fontes da igreja, a comparação foi mal recebida pela hierarquia católica e levou Condoleezza a convidar os cardeais de Washington, Theodore McCarrick, de Nova York, Edward Egan, de Baltimore, William Keeler, e o arcebispo da Filadélfia, Anthony Bevilacqua, que está para ser alçado ao cardinalato, para uma conversa na Casa Branca. O encontro aconteceu dois dias antes da visita do enviado do papa a Bush.

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