Governo chinês interna dissidentes em manicômios

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Informações divulgadas ontem pelas organizações não-governamentais (ong) Iniciativa Psiquiátrica de Genebra e a Human Rights Watch apontam que opositores do regime comunista chinês estariam em clínicas psiquiátricas do país com o argumento de serem doentes mentais. A denúncia, que faz parte parte de um documento com quase 300 páginas, é de que pessoas que teriam desafiado o regime estão sendo levadas aos manicômios, já que, pela versão oficial de Pequim, virtualmente todas as doenças mentais são causadas por "desvios" políticos. "O governo (chinês) precisa acabar com a prática de usar a internação com fins políticos", afirmou a Human Rights Watch. A maior incidência dos casos teria ocorrido durante a Revolução Cultural, promovida pelo líder Mao Tsé Tung entre 1966 e 1976. Mas as ongs ressaltam que, até hoje, a internação de dissidentes políticos é uma prática do regime comunista. Membros da organização Falun Gong, sindicalistas e simples opositores estão entre os "pacientes" dessas instituições psiquiátricas. Um deles é o ativista Wang Wanxing, que foi levado a um manicômio em 1992 depois de ter participado das manifestações na Praça Tiananmen e com o diagnóstico de paranóico. Em 1999, Wanxing foi solto, mas uma entrevista dada a jornalistas estrangeiros o levou novamente à clínica psiquiátrica. Durante os anos 80, a estimativa é de que 15% dos pacientes psiquiátricos teriam sido levados às clínicas por ofensas políticas ao governo. Apesar disso, as ongs garantem que apenas uma minoria dos médicos chineses estão envolvidos nessa estratégia do governo. Interferência da ONU As ongs querem agora que a Comissão de Direitos Humanos da ONU investigue as denúncias e tome medidas para evitar que a prática continue. A Associação Psiquiátrica Mundial também deverá se envolver no debate, já que, pelas regras da profissão, elaboradas em 1996, está proibido qualquer uso político de diagnósticos sobre a situação mental de cidadãos. Prática comum na União Soviética Segundo as ongs, não é a primeira vez que os manicômios são utilizados para isolar os ativistas políticos. A prática era comum na União Soviética, que chegou a ser expulsa da Associação Psiquiátrica Mundial, em 1983. Moscou acabou voltando à Associação em 1989, quando o então presidente soviético, Gorbachev, implementou uma reforma no sistema das clínicas psiquiátricas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.