Governo colombiano e Farc anunciam plano para integrar guerrilha à política

Negociações em Havana registram avanço decisivo com acordo sobre os termos de uma deposição de armas dos guerrilheiros para ingressar na vida partidária nacional

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Por Redação
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HAVANA - A guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano anunciaram ontem um acordo sobre a garantia da participação dos rebeldes na vida política do país após o eventual estabelecimento do pacto de paz que tentam alcançar. O tema, ponto mais sensível e controvertido da negociação para pôr fim ao conflito de quase meio século, foi debatido por cinco meses.

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Negociadores de ambos os lados buscam uma solução que possibilite às Farc abandonar as armas e participar de forma democrática da política colombiana. De maneira prática, o acordo alcançado ontem deve determinar que grupos engajados em movimentos políticos, sociais e populares originários da guerrilha após um acordo de paz terão representação transitória no Congresso - segundo analistas, pelo período de uma legislatura -, para depois disputar eleições.

O comunicado dos negociadores, porém, não detalha quantos assentos serão reservados às "circunscrições especiais" destinadas aos futuros ex-guerrilheiros na Câmara de Deputados colombiana. Segundo a nota, "as condições particulares" dessa participação serão discutidas na próxima rodada de negociações em Havana, capital cubana, sede do diálogo.

Representantes da guerrilha e de Bogotá negociam há pouco mais de um ano os termos de um acordo de paz definitivo, para pôr fim ao conflito mais antigo da América Latina - que em quase 50 anos deixou um número de mortos estimado em cerca de 200 mil e 4,3 milhões de deslocados. Outras três tentativas de acordo falharam desde a década de 80, em meio a ataques armados de grupos paramilitares e o envolvimento de cartéis de narcotráfico.

No fim de maio, os negociadores anunciaram um acordo sobre uma política de reforma agrária na Colômbia, reivindicação histórica das Farc. O pacto inclui programas para acesso e uso de terras, desenvolvimento e infraestrutura do setor, estímulos à produção e à segurança alimentar e ajuda social para os camponeses colombianos.

"Em nenhum processo (de paz) anterior avançamos tanto quanto agora", declarou o líder máximo das Farc, Iván Márquez, que chefia as negociações. "Essa nova abertura democrática é fundamental para assentar definitivamente a paz", afirmou o ex-vice-presidente colombiano Humberto de la Calle, principal representante de Bogotá no diálogo.

O acordo sobre a participação política dá fôlego à negociação e poderia contribuir para melhorar a popularidade do presidente Juan Manuel Santos, que tem até o fim deste mês para decidir se vai se candidatar à reeleição em 2014.

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O objetivo de Santos é submeter um possível acordo de paz com as Farc a uma consulta popular a ser realizada com a eleição legislativa, em março, ou com a votação presidencial, em maio. As Farc, porém, preferem que o referendo seja feito separadamente das eleições.

Os negociadores deverão retomar o diálogo no dia 18. Os demais pontos em discussão no processo são o fim do conflito armado, o narcotráfico e suas consequências, a reparação às vítimas e a implementação do eventual acordo. / AP e REUTERS

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