Governo da Guatemala considera incêndio no Congresso um 'ato terrorista'; CIDH condena uso da força

Depois de colocarem fogo no Congresso, no sábado, manifestantes voltaram às ruas para pedir a renúncia de Alejandro Giammattei

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Por Redação
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CIDADE DA GUATEMALA - Manifestantes voltaram neste domingo, 22, às ruas da Guatemala para protestar conta o presidente Alejandro Giammattei, que aprovou um orçamento com cortes em programas de saúde, educação e direitos humanos. A crise se agravou no sábado, quando o Congresso foi incendiado em atos que o governo classificou de “terroristas”. Já a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou o que chamou de “uso excessivo da força” pela polícia contra os opositores. 

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Os manifestantes se concentraram hoje na Plaza de la Constitución, centro político da capital guatemalteca. Entre as queixas está uma rubrica do orçamento que reserva US$ 65 mil para refeições dos parlamentares – enquanto os fundos para tratar pacientes com covid-19 foram cortados. 

No sábado, os manifestantes colocaram fogo no prédio do Congresso e jogaram pedras na polícia. Muitos pediam a renúncia de Giammattei, um conservador eleito em 2019, mas que assumiu em janeiro. A Universidade de San Carlos, a única estatal do país, pediu uma paralisação nacional para hoje, embora não tenha recebido resposta de outras áreas ou do poderoso setor empresarial.

Guatemaltecos voltram às ruas para pedir a renúncia do presidente Alejandro Giammattei Foto: Moises Castillo/AP

A CIDH escreveu no Twitter que condenava o uso excessivo da força pelas autoridades contra manifestantes, mas também pedia uma investigação sobre “os atos de vandalismo contra o Congresso, após os quais agentes do Estado suprimiram indiscriminadamente o protesto”. 

“Os governos devem respeitar as manifestações pacíficas, mas quando confrontados com a violência, eles devem identificar pessoas – manifestantes ou terceiros – que põem direitos sob risco ou infringem propriedade do Estado.”

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, afirmou hoje um comunicado que o governo e o Congresso devem “garantir a transparência, a prestação de contas e os mais elevados padrões no combate à corrupção, entendendo como prioritária a luta contra a desnutrição infantil”. “Reiteramos que existe o direito ao protesto, que deve ser absolutamente garantido, mas não existe o direito ao vandalismo”, ponderou.

Alegando cansaço e abuso, centenas de guatemaltecos queimaram no sábado a sede do Congresso, após a aprovação de um orçamento que não contempla aumentos na esfera social e prevê um forte endividamento público. “A Guatemala chora sangue, o povo já está farto, vivemos pisoteados por mais de 200 anos”, disse um manifestante que não se identificou.

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Giammattei alegou na sexta-feira, ao defender esse orçamento, que seu governo pensou em “reduzir despesas operacionais e concentrar esses recursos para atender as prioridades do país”. “Além disso, reduzir o déficit fiscal e, como resultado, um menor endividamento”, alegou.

Home celebra nas ruas enquanto prédio do Congresso queima; manifestantes pedem saída do presidente Alejandro Giammattei Foto: Johan Ordonez/AFP

O vice-presidente do país, Guillermo Castillo, que anteriormente se distanciou de seu presidente e pediu sua renúncia, pediu ontem ao Ministério Público (MP) que investigue os escritórios queimados do Congresso, mas também a repressão policial.

“É urgente que o MP abra uma investigação séria sobre o ocorrido ontem (sábado). O vandalismo é claro e também o uso excessivo da força policial”, indicou. Na sexta-feira, Castillo ofereceu a Giammattei uma renúncia conjunta “pelo bem do país”. Se os dois governantes renunciarem, o Congresso terá de juramentar o chanceler Pedro Brolo.

O ministro do Interior Gendri Reyes criticou em um discurso na noite de sábado os atos violentos no Congresso e disse que vão capturar os responsáveis pelo fogo no Congresso.

‘Chega de corrupção'

Erguendo bandeiras azul e branco do país e cartazes que diziam “Chega de corrupção”, “Fora Giammattei” e “Se meteram com a geração errada”, os manifestantes encheram a praça central em frente ao antigo palácio do governo.

O país, onde há vários casos e denúncias de corrupção assim como demoras na designação de juízes, já vivenciou em 2015 a renúncia do então presidente Otto Pérez em meio a um caso de fraude alfandegária. 

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Além da rejeição ao novo orçamento, a indignação também diz respeito à opacidade na gestão dos recursos utilizados para enfrentar a pandemia de coronavírus, assim como a rejeição à criação de um superministério liderado por um jovem próximo ao presidente.

O Congresso aprovou empréstimos de mais de US$ 3,8 bilhões para atender a pandemia de coronavírus, mas apenas 15% desses recursos chegou aos guatemaltecos.

A gestão da crise de saúde por parte de Giammattei, um médico de 64 anos, tem sido duramente criticada por seu vice-presidente, pela oposição e setores sociais que denunciam carências nos hospitais e dificuldades para atender os grupos afetados pelo confinamento.

Segundo dados oficiais, a covid-19 deixou quase 120 mil casos e mais de 4 mil mortos neste país de 17 milhões de habitantes./AFP e AP 

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