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Governo da Nicarágua lança ofensiva contra cidade rebelde de Masaya

Moradores relataram que dezenas de homens armados entraram na região, cerca de 30 quilômetros ao sul da capital Manágua, durante a madrugada; população ergueu barricadas de até 2 metros para resistir a ofensiva das forças de Daniel Ortega

Atualização:

MANÁGUA - As forças do governo da Nicarágua lançaram nesta terça-feira, 17, um intenso ataque contra a cidade rebelde de Masaya, em nova tentativa do governo de Daniel Ortega de desarticular a resistência no bairro indígena de Monimbó, símbolo dos protestos que deixaram mais de 280 mortos em três meses. Em meio à movimentação, o secretário da presidência assegurou que "a tentativa de golpe" havia acabado.

Polícia cerca locais onde manifestantes fazem barricadas na Nicarágua Foto: REUTERS/Oswaldo Rivas

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O arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, denunciou a ação do governo pelo Twitter. "Estão atacando Monimbó! As balas estão atingindo a igreja de María Magdalena, onde o padre está refugiado", disse. "Daniel Ortega precisa deter o massacre! Rogo às pessoas de Monimbó que salvem suas vidas!", acrescentou Báez.

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A oposição chama a ação das forças do governo de "operação limpeza". A população de Monimbó ergueu barricadas de até dois metros para se proteger dos ataques. Os sinos das igrejas soaram enquanto as rajadas das armas de diversos calibres eram ouvidas por todos os lados da cidade, segundo relataram testemunhas para emissoras da capital.

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Trinta e sete caminhonetes cheias de agentes da polícia antimotim e parapoliciais fortemente armados entraram de madrugada pelos quatro cantos de Masaya, localizada 30 quilômetros ao sul da capital, segundo imagens postadas nas redes sociais por moradores da cidade. "Estão nos atacando por vários pontos daqui de Monimbó", dizia um áudio compartilhado pelo dirigente do Movimento Estudantil 19 de Abril, Cristian Fajardo.

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A cidade se declarou rebelde em abril, quando começaram os protestos contra o governo exigindo a saída do poder de Ortega e de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo.

Tensões.

No domingo, uma grande operação em Masaya e cidades vizinhas deixou ao menos 10 mortos e muitos feridos, segundo organizações de direitos humanos. A polícia confirmou apenas duas mortes na ação, incluindo um de seus agentes. Neste contexto, o secretário da presidência da Nicarágua, Paul Oquist, declarou que a tentativa de golpe havia terminado.

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"A boa notícia da Nicarágua é que o golpe fracassou, isto é, a tentativa de realizar um golpe de Estado na Nicarágua já foi derrotada", disse Oquist em Bruxelas, ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Europa, América Latina e Caribe. Segundo ele, que é considerado um dos membros de gabinete mais próximos do presidente, já "não há barricadas nas estradas e os estudantes podem voltar a estudar".

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Após as informações mais recentes, os Estados Unidos pediram ao presidente nicaraguense que não ataque a cidade de Masaya. "Pedimos energicamente ao presidente Ortega que não ataque Masaya. A violência contínua e o derramamento de sangue promovidos pelo governo na #Nicarágua devem cessar imediatamente. O mundo está observando", afirmou o secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco Palmieri, em uma mensagem no Twitter.

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Além disso, nesta terça-feira, a ONU acusou as autoridades da Nicarágua de graves violações aos direitos humanos e disse estar muito preocupada com o desaparecimento de dois representantes do movimento camponês detidos no aeroporto de Manágua. Eles estavam a caminho de uma conferência nos EUA.

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"Estamos muito preocupados pelo fato de que dois defensores dos direitos humanos possam ser vítimas de desaparecimento forçado, disse Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, em Genebra. 

"A polícia os prendeu na sexta-feira no aeroporto de Manágua e desde então as autoridades não informaram a suas famílias o local onde se encontram. Pedimos às autoridades nicaraguenses que forneçam imediatamente as informações sobre a sua localização", acrescentou. / AFP

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