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Governo dos EUA tenta atenuar impacto das imagens de Bagdá

Por Agencia Estado
Atualização:

Perguntado em entrevista, nesta tarde, sobre a possibilidade de o bombardeio maciço de Bagdá vir a reforçar a percepção internacional de que os EUA agem como um país "valentão", o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse que seu país "e as forças da coalizão deram todos os passos concebíveis, diplomáticos e econômicos, (fizeram) um ultimato (a Saddam Hussein) e um começo cuidadoso e comedido (da guerra)". Segundo Rumsfeld, "o que estamos fazendo no momento não poderia, de maneira nenhuma, encaixar-se (na descrição de ´valentão´) porque isso seria não compreender nada do que está acontecendo". O secretário de Defesa procurou também atenuar o impacto político do bombardeio e insistiu que todos os cuidados foram tomados para minimizar baixas entre civis iraquianos e dirigir as bombas a alvos específicos ligados à estrutura do poder montada por Saddam Hussein. Rumsfeld queixou-se particularmente das comparações que jornalistas e comentaristas das imagens de Bagdá sob as bombas, transmitidas ao vivo pela televisão, fizeram com cenas da Segunda Guerra Mundial e do Vietnã. "Não há comparação", disse Rumsfeld. "As armas que estão sendo usadas hoje têm um grau de precisão com o qual ninguém jamais sonhou em conflitos anteriores", disse. "Não é apenas uma parte das armas, mas a grande maioria delas que possuem tal precisão". O secretário de Defesa descreveu o trabalho de seleção dos alvos numa linguagem orwelliana. Ele falou sobre "o cuidado que se toma, a humanidade (desse trabalho), para que (apenas) os alvos militares sejam destruídos". Rumsfeld previu que o equívoco das comparações com o ataque aéreo em curso no Iraque com bombardeios ocorridos em guerras anteriores será comprovado depois do cessar-fogo. "Eu acrescentaria que estamos provavelmente assistindo a algo histórico - um conflito num momento de nossa história em que temos televisão, rádio, meios de comunicação e Internet 24 horas por dia e mais pessoas no mundo têm acesso ao que está acontecendo", disse. Mas ele ressalvou que as imagens transmitidas pelas centenas de repórteres que acompanham as tropas americanas e britânicas representam apenas "fatias da guerra do Iraque (...), a perspectiva particular de um repórter, de um comentarista ou de uma câmara de televisão (...) e não a totalidade do que essa guerra é (e do que ela representa)". O secretário de Defesa usou a entrevista também para responder à principal crítica feita nos EUA à decisão do presidente George W. Bush de usar a força para resolver uma confrontação com um regime que, na opinião desses críticos, estava contido e não representava uma ameaça direta ou imediata aos Estados Unidos. "Não escolhemos essa guerra", afirmou ele. "A comunidade internacional ofereceu uma escolha a Saddam Hussein: entregue suas armas de destruição em massa ou perca o poder; ele fez uma escolha pouco sábia e agora perderá ambos", disse Rumsfeld, numa afirmação que não corresponde aos termos da resolução 1441 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A mudança do regime iraquiano é objetivo da administração Bush, mas não consta da resolução do Conselho e foi uma das razões pela quais Washington não conseguiu o apoio que gostaria de ter recebido para legitimar a guerra contra o Iraque. Rumsfeld também afirmou que "a confusão entre os oficiais iraquianos está aumentando e que eles estão perdendo a capacidade de ver o que está acontecendo nos vários campos de batalha e de manter o controle do país". Mas, em contraste informações divulgadas pelo Pentágono no primeiro dia da guerra sugerindo que as forças americanas estariam em contato e negociando secretamente com oficiais do círculo próximo a Saddam Hussein, o secretário de Estado não estimulou a idéia de que uma rendição do regime de Bagdá esteja à vista. Ele explicou que os contatos com esse objetivo entre as forças americanas e oficiais iraquianos, iniciados há varias semanas, tem se dado ao nível de unidades locais. Uma dessas unidades seriam da Guarda Republicana - a tropa de elite de Saddam Hussein. Abreviar a guerra e reduzir ao máximo seu preço estava claramente entre as preocupações do secretário de Defesa, em sua segunda entrevista desde o início do conflito. Rumsfeld repetiu sua exortação aos soldados e oficiais iraquianos para que não resistam ao avanço das forças americanas e britânicas sobre Bagdá e não arrisquem suas vidas para defender um regime cujos dias estão contados. Mas suas declarações soaram mais como uma manifestação do que Washington deseja do que como uma descrição de um cenário iminente. "Suspeito de que eles estão começando a dar-se conta de que o regime acabou e, à medida que tomem consciência disso, seu comportamento provavelmente começará a mudar", afirmou Rumsfeld, falando apenas meia hora depois do início do ataque aéreo maciço que era esperado como o salvo de abertura da guerra mas foi suspenso e adiado até hoje, segundo fontes oficiais, na esperança de que um bombardeio cirúrgico feito no primeiro dia contra um alvo que abrigaria Saddam Hussein e alguns de seus assessores-chave levaria a uma rápida desestruturação das operações de comando e controle das forças iraquianas e ao colapso do regime. "Os (oficiais) próximos de Saddam Hussein provavelmente começarão a procurar uma maneira de salvar-se", previu o secretário de Defesa. "Aqueles cuja obediência está baseada no temor podem começar a perder o medo dele; soldados e oficiais no campo de batalha verão que seus interesses não estão com um regime que está condenado e morrendo, mas sim em ajudar as forças de libertação do Iraque". Mas o fato de comando militar americano ter desencadeado o ataque aéreo maciço contra centenas de alvos em várias partes do território iraquiano mostrou que, se a expectativa de um rápido desmoronamento da estrutura de poder de Saddam Hussein existiu no governo americano nas primeiras horas da guerra, hoje ela deixou de orientar os cálculos do presidente George W. Bush e de seu conselho de guerra. Veja o especial :

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