Governo e rebeldes chegam a acordo de paz sobre Darfur

Depois da assinatura do acordo, o desafio é reconstruir a região e assegurar o fim da luta armada

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Por Agencia Estado
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Dois anos de negociações em Darfur, marcados por retrocessos e frustrações, terminaram nesta sexta-feira com um final agitado para a diplomacia internacional e uma cerimônia de assinatura da proposta de paz. Agora vem a parte difícil: assegurar os pedidos para o fim da luta armada, reconstruir a região e encerrar o sofrimento nesta área, no oeste do Sudão. A chave para isso pode ser o envio de uma grande força de paz da ONU à região, medida que o governo do Sudão agora parece propenso a aceitar. Enquanto o principal grupo rebelde de Darfur assinou o acordo apoiado pela União Africana (UA), Estados Unidos, Reino Unido, União Européia e Liga Árabe, dois outros grupos o rejeitaram, afirmando que ele não atende plenamente a suas exigências de segurança, garantias de divisão de poder e compensação para vítimas de guerra Membros das facções rebeldes estão unidos para acusar o governo central de negligenciar sua região empobrecida, mas divididos por rivalidades de liderança e abordagens diferentes. O acordo de paz determina um cessar-fogo, o desarmamento das chamadas milícias Janjaweed ligadas ao governo, a integração de centenas de rebeldes no Exército do Sudão e a implementação de uma força de segurança para proteger os civis. As promessas políticas incluem a garantia de que as facções rebeldes terão maioria nas legislaturas de Darfur. Contudo, os rebeldes não conseguiram a vice-presidência que almejavam. O secretário de Estado americano adjunto, Robert Zoellick, indicou que os dois grupos menores, que rejeitaram o acordo, podem ser contornados. Nesta sexta-feira um dos grupos se dividiu devido a desentendimentos com seu líder por não ter aceitado a proposta de acordo. Zoellick admitiu que a implementação do acordo será um grande desafio, mas dará seu apoio ao envio de uma força de paz para a região. O governo sudanês havia rejeitado inicialmente os pedidos da ONU para que as forças de paz da União Africana que se encontram em Darfur fossem substituídas por tropas das Nações Unidas. Mas, após a assinatura do tratado de paz nesta sexta-feira, o governo pareceu propenso a voltar atrás. Comemorações Os observadores do processo de paz irromperam em aplausos depois que a última página do documento foi assinada. O tratado, de 85 páginas, foi escrito pela União Africana e revisado pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros enviados. A sala do complexo presidencial em que o acordo foi assinado estava repleto de líderes tribais em turbantes brancos, guerrilheiros em vestimentas camufladas, diplomatas e jornalistas. "A menos que o espírito correto, a atitude correta e a disposição corretas estejam lá, esse documento não será mais do que um pedaço de papel assinado", disse o presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, uma das figuras centrais no processo de pacificação. "Nós continuaremos a apelar àqueles que não assinaram. Não podemos permitir que esta janela de oportunidade seja fechada." O maior grupo rebelde da região - o Minni Minnawi, a maior facção do Movimento de Libertação do Sudão (MLS) - assinou o tratado. Já duas facções menores do MLS o rejeitaram. Segundo elas, o acordo não apresenta garantias em relação a segurança e as compensações para as vítimas da guerra. O líder de uma das facções dissidentes, Abdel Wahid Nur, se encontrou com Obasanjo por quatro horas, e passou rapidamente pelo salão em que o acordo estava sendo assinado. Mas deixou o local dizendo aos repórteres que considerava o acordo "um grande desastre". Segundo Nur, o tratado não ia fundo bastante nas garantias par ao desarmamento dos Janjaweed, as milícias muçulmanas ligadas ao governo sudanês. Ao menos 180 mil pessoas foram mortas e mais de 2 milhões forçadas a abandonar suas casas nesta que é considerada pela ONU uma das maiores crises humanitárias de todos os tempos. O conflito de Darfur, que começou em 2003, também se espalhou para o Chade e para a República Centro Africana. E a violência poderia aumentar: na semana passada, Osama bin Laden convocou seus seguidores a lutar contra a presença da ONU na região.

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