
11 de julho de 2013 | 02h04
A decisão ocorreu horas depois de os islamistas terem rejeitado participar do gabinete interino, mantendo sua mobilização no Cairo.
O novo episódio da crise política do Egito começou na noite de ontem, quando o presidente interino Adli Mansour ofereceu ministérios à Irmandade Muçulmana em troca de apoio ao governo "de transição". A recusa veio poucas horas depois. "Não pactuaremos com golpistas", afirmou à agência France Presse Tariq al-Morsi, um dos porta-vozes da Irmandade. "Rejeitamos tudo o que emana desse golpe."
Ao Estado, Abdul Rahman al-Ber, porta-voz e um dos membros graduados do Comitê do Conselho da Irmandade, afirmou que a única hipótese de negociações é a que inclui o retorno do presidente deposto ao poder. "A única saída é devolver o governo a Morsi. Uma vez que isso aconteça, podemos negociar o que quer que seja", garantiu. "É o único caminho legítimo."
Coincidência ou não, a negativa da Irmandade em colaborar com o governo de facto foi seguida de ordens de prisão. O primeiro alvo é Badie, mas cerca de 200 outros militantes islamistas responderão na Justiça por crimes de "assassinato", "incitação à violência", "porte ilegal de armas" e "distúrbios da ordem pública". Os suspeitos permanecerão presos nos próximos 20 dias e serão acusados de participar de forma direta ou indireta dos choques com as forças de segurança na segunda-feira, na frente do quartel da Guarda Republicana, em Nasr City, no Cairo.
O confronto deixou 51 mortos e mais de 400 feridos. Segundo o governo, dois militares e um policial também morreram, o que causou a abertura de processo. "Essas prisões não nos surpreendem, porque vêm de um regime ditatorial. Esperamos mais iguais a essas", respondeu Abdul Rahman al-Ber.
Enquanto o governo interino lança uma nova onda de prisões de islamistas, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, informou ontem que o presidente deposto "por ora não é objeto de nenhum processo judicial". "Morsi está em lugar seguro, para o seu próprio bem, e é tratado dignamente", afirmou o chanceler, em entrevista à TV americana CNN.
Além de lidar com o conflito com a Irmandade, o governo de Mansour também tenta contornar as deserções na coalizão que apoiou o golpe. Ontem, o Tamarod, movimento jovem que lançou a petição pela destituição de Morsi, voltou a criticar o documento que deve servir de base para a redação da nova Constituição, a ser submetida a novo referendo ainda em 2013. "A Declaração Constitucional ameaça abortar a 'revolução de 30 de junho'", afirmou o movimento via Twitter. O grupo convocou uma nova manifestação para amanhã.
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