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Governo francês põe em prática política de segurança

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo direitista de Jean-Pierre Raffarin, eleito por empunhar a bandeira da luta contra a insegurança, coloca em prática um projeto grandiloqüente do ministro do Interior, o talentoso Nicolas Sarkozy, contra todas as categorias sociais "de risco". Ele ataca a prostituição, a abordagem provocante em via pública, embora, hoje em dia, as prostitutas possam ser vistas desfilando livremente nas ruas. Ataca também a mendicância agressiva. E, aqui, encontra em seu caminho um adversário temível. Trata-se de um ancião de 90 anos, o abade Pierre, que há 50 anos combate os horrores sociais. O abade, um ex-deputado, não se contenta com discursos. Ele fundou uma instituição, a Discípulos de Emaús, que coleta objetos velhos e os revende para ajudar os pobres, as pessoas do "quarto mundo". Ontem, assistimos ao velho abade, com a capa e a boina negras, esgotado, o semblante marcado pela idade, se deslocar até uma favela perto de Paris, em um campo de "roms". E lá bateu impiedosamente no ministro do Interior. Revoltado com as leis contra os mendigos, as prostitutas, os viajantes e os imigrantes, o abade Pierre despejou sua cólera. "A primeira medida de segurança de um ministro do Interior é a segurança dos desvalidos, daqueles que não têm como se proteger", ele esbravejou. Com seu aspecto frágil, sua voz cansada, sua aura de profeta, ele foi ainda mais longe. "Eu mesmo ocupei prédios vazios. Eu já mendiguei na porte Saint-Martin, em Paris, e chorei. Desde que saí do Parlamento, em 1952, esta lei Sarkozy é o primeiro texto que me deixa verdadeiramente indignado." O que pode fazer um homem só, com idade avançada e sem qualquer respaldo, diante do "Estado Leviatã", diante do ministro da Justiça, diante do todo-poderoso Nicolas Sarkozy? Ah, não! Isso não é nada. O abade Pierre é capaz de abalar as estruturas mais fortes. Ele é bem conhecido de todos os franceses. Nos termômetros da popularidade, todas as categorias reunidas, o abade Pierre continua em primeiro lugar depois de décadas. Ele bateu os mais importantes jogadores de futebol, os cantores mais ilustres, as top models mais perfumadas. Ele é reverenciado como um Santo. E um político que enfrenta grandes dissabores. É por isso que o ministro do Interior respondeu o quanto antes ao velho, que havia despejado sua cólera e desprezo na sujeira, na fumaça e nos detritos do campo dos "roms". O ministro explicou cuidadosamente que não está atacando os mendigos, mas somente aqueles que geram a mendicância, aqueles que fazem fortuna explorando os esfomeados. A réplica de Sarkozy não é falsa. Ele está certo quando diz que, depois do fim da União Soviética, as máfias proliferam em países do Leste, como Romênia, Bulgária, Albânia, etc. Estas gangues são terríveis. Elas reúnem os pobres, os pequenos enfermos que vagam pelas ruas de Bucareste ou Sófia, quase sempre amputados, levam-nos a Paris e os fazem mendigar. A mesma coisa com as meninas. Eles pegam as adolescentes, vestem-nas, colocam-nas nas ruas de Paris, Bruxelas e Berlim, as ameaçam e as desfiguram ao primeiro sinal de revolta. Portanto, a defesa de Sarkozy não é medíocre. É tempo de acabar com as gangues que se alimentam do sangue dos pobres. Os governos passam a maior parte do tempo anunciando uma ofensiva contra as fileiras mafiosas e o que vemos continuamente são ações contra as prostitutas e os meninos de rua para que as pessoas possam transitar livremente. Eis porque um homem só, velho e muito doente, se colocou hoje em defesa dos humilhados e ofendidos. Mas o que pode fazer esse ancião? Quando lhe falavam do Vaticano, Stálin ironizava: "Quantas divisões pode alinhar o seu papa?". Mas ele se enganou: a Igreja teve papel fundamental no desmonte do regime stalinista.

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