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Governo Obama aposta em poder de persuasão do presidente

A questão agora é saber se Barack Obama está sendo superexposto na mídia dos Estados Unidos.

Por Kevin Connolly
Atualização:

Ele é um presidente capaz de executar múltiplas tarefas em uma era de muitos canais de comunicação. A segunda entrevista coletiva televisionada do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nesta terça-feira, aconteceu em meio a uma semana extraordinária, na qual ele riu no programa de Jay Leno, deu palpites sobre o campeonato de basquete universitário na ESPN e mostrou seu lado mais contemplativo no programa 60 Minutes , da rede CBS . Nós não deveríamos nos espantar se, ao colocarmos em um canal de culinária, nos depararmos com o presidente dos EUA flambando crepes ou se o encontrarmos falando sobre tempestades no Delta do Mississippi no canal do tempo. Os Estados Unidos são a mais vibrante e apaixonante democracia do mundo, mas viver aqui na última semana se pareceu mais com viver na Europa Oriental antes da queda do comunismo: toda vez que você liga a TV, se depara com o chefe de Estado. Nesta terça-feira, pela segunda vez em seu curto tempo de mandato, Obama pediu - e recebeu - espaço em rede nacional de televisão no horário nobre, o que obrigou a rede Fox, por exemplo, a mudar o horário de seu popular show de talentos American Idol . Para um estrategista de comunicações presidencial, este não é um passo que se dê sem que haja coisas urgentes a serem feitas. Leia também na BBC Brasil: Em entrevista coletiva, Obama defende orçamento trilionário A tarefa urgente agora, claro, é convencer os americanos de que o novo governo tem um plano claro e convincente para acabar com a recessão e consertar os buracos no sistema financeiro que a causaram. E até agora, pelo menos, o governo Obama tem apenas uma pessoa com o poder de persuasão para fazê-lo: o próprio presidente Obama. Ele é lúcido, articulado, razoável e um mestre nos detalhes do governo. Mais importante, ele é mais popular que algumas das políticas de seu próprio governo, como a de socorrer os bancos. Além disso, ele é certamente mais popular do que alguns dos membros da administração, como o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que pode ser o brilhante político que nos venderam, mas que, em público, tem dificuldades em se comunicar, convencer ou argumentar. Tentar ganhar apoio do público para estas políticas conta bastante. Em suas aparições, Obama tem vendido o argumento arriscado de que a recessão oferece aos Estados Unidos uma oportunidade para tomar emprestado e gastar grandes quantias de dinheiro em educação, saúde e energias alternativas. O déficit no orçamento dos EUA este ano pode muito bem atingir US$ 1,8 trilhão e, se não vermos sinais de recuperação em breve, o presidente tem que se assegurar que pode fazer a opinião pública apoiar outro plano, se necessário. Mas há democratas, assim como republicanos, que duvidam da inteligência da matemática por trás destes pacotes. Assim, apesar de ter havido perguntas sobre Israel e os palestinos, a segurança na fronteira mexicana e a China, o maior foco da entrevista coletiva de Obama nesta terça-feira continuou sendo a economia americana e o orçamento. No final de uma semana onde a raiva dos americanos aumentou por causa dos bônus da seguradora AIG, o tom do presidente na coletiva foi sério e calmo. A mensagem que ele passou foi de que o governo tem as respostas para os problemas americanos, que está "indo na direção certa" e "começando a ver sinais de progresso". Ainda vai levar algum tempo para sabermos se a estratégia de Obama de gastar em saúde, educação e energia vai valer a pena. Mas o presidente foi forçado a defender estas ideias sob a pressão de questões a respeito de qual será o legado de dívidas que ele deixará para suas filhas. Em termos de conhecimentos dos detalhes do governo, a coletiva de Obama foi impressionante, como sempre. Obama foi capaz de entrar em detalhes sobre como exatamente diferentes modelos econômicos produzem diferentes projeções de crescimento. Mas a performance do presidente não foi tão macia como costuma ser. Ele pareceu falar de modo atropelado as considerações iniciais da coletiva e se mostrou, em geral, um tanto cansado. Houve também um pouco de irritação quando um repórter perguntou sobre os motivos que o levaram a demorar em criticar o caso dos bônus da AIG. O presidente respondeu de modo áspero: "Eu levei alguns dias porque eu gosto de pensar sobre o que vou dizer, antes de falar". Nestes primeiros dias de governo, há ainda um pouco de fascinação sobre como estes eventos em horário nobre são preparados e organizados. Na coletiva desta terça, houve perguntas da TV de língua espanhola Univision , da revista afro-americana Ebony e do jornal das Forças Armadas. E quem pensaria, há um ano, que veríamos uma coletiva do presidente dos EUA onde nem o Iraque nem Osama Bin Laden foram mencionados? Mas a grande questão é se Obama está ou não superexposto, na medida em que ele sozinho tem a tarefa de apresentar ao público seus planos ambiciosos. Assessores próximos a ele, como (o chefe de gabinete) Rahm Emanuel e (o porta-voz) Robert Gibbs claramente acham que não. Eles argumentam que usar o poder de persuasão de Obama neste momento difícil é a coisa certa a se fazer. Até agora, eles parecem certos. As audiências dos programas de TV em que ele participou foram altas, os seus palpites de basquete comentados e sua primeira coletiva atraiu quase 50 milhões de espectadores. Será interessante agora ver se a audiência desta segunda coletiva será maior ou menor do que a primeira e quantas vezes mais o presidente usará a rede nacional de TV, enquanto a política se torna mais difícil e as perguntas mais duras. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. 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