Governo peruano arbitra conflito e supera seu primeiro desafio

"Conversando, nós, peruanos, podemos nos entender. Demonstramos que humildes camponeses e executivos de uma mina podem se sentar e dialogar"

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Por Agencia Estado
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O Governo do social-democrata Alan García superou nesta quarta-feira, um mês após sua chegada ao poder, o primeiro obstáculo no seu caminho, ao intermediar com sucesso o conflito surgido entre a população de Combayo e a mineradora Yanacocha, que explora a maior jazida de ouro da América Latina. O primeiro-ministro peruano, Jorge del Castillo, dirigiu a mesa de negociações em Lima. Pelo acordo, os camponeses aceitaram suspender o bloqueio da estrada entre Cajamarca e Bambamarca. Assim, a mina de Yanacocha retomará suas operações, paralisadas desde segunda-feira. "Conversando, nós, peruanos, podemos nos entender. Demonstramos nesta terça-feira que humildes camponeses e executivos de uma mina podem se sentar e dialogar", disse Castillo. Além disso, foi acertada a criação de uma comissão de alto nível formada pelos ministros de Energia e Minas, Agricultura, Saúde e membros da Defensoria Pública. Eles deverão procurar uma solução definitiva para o conflito entre os habitantes de Combayo e a mineradora. A comissão governamental vai promover mais uma reunião no próximo domingo, em Cajamarca. O Governo espera abrir um novo caminho nas relações entre as empresas mineradoras e a população, fonte de múltiplos conflitos ao longo do mandato de Alejandro Toledo (2001-2006). A cidade é a mesma onde, em 1532, o Inca Atahualpa ofereceu ao conquistador espanhol Francisco Pizarro dois quartos cheios de ouro e um de prata como parte de seu resgate, para em seguida ser assassinado. Hoje, o clima é de tensão, com o conflito entre a população e os trabalhadores da Yanacocha, que se arrastam desde a sua chegada, em 1993. No começo de agosto, os habitantes de Combayo se revoltaram contra a Yanacocha por considerar que a mineração estava acabando com o abastecimento de água. O protesto custou a vida do camponês Isidro Llanos, morto em 2 de agosto. O sacerdote Marco Arana, dirigente da Grufides, organização de defesa do meio ambiente em Cajamarca, disse nesta terça-feira que espera que o reatamento do diálogo signifique uma nova relação entre a mineradora e os cidadãos. Arana disse à Efe que 72% do território de Cajamarca foram entregues a concessões de mineração, "sem que a população fosse informada e sem considerar que nas áreas existem mananciais e lagoas". O prefeito de Combayo, Luciano Llanos, disse à Efe que "os protestos são por defender os recursos hídricos, já que o povoado se dedica à agricultura e à pecuária, e a Yanacocha contaminou as águas usadas para a criação animal". "Sem água, vamos desaparecer", afirmou o prefeito. Ele acrescentou que desde o ano passado vinha reivindicando uma solução ao Governo e não obtinha resposta. "Por isso decidimos bloquear a estrada para os carros da Yanacocha", explicou Llanos, de 35 anos, que liderava os protestos. A empresa emprega cerca de 10 mil pessoas e gera 25% da renda da região de Cajamarca, o segundo departamento mais pobre do Peru.

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