Governo terá de gastar capital político para retomar iniciativa

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Por Julian E. Barnes , Josh Meyer e LOS ANGELES TIMES
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Num sinal de quanto ímpeto Barack Obama perdeu em sua intenção de fechar a prisão de Guantánamo, o Senado votou, por 90 votos a 6, na quarta-feira, pelo bloqueio do financiamento do fechamento. Foi uma votação num ambiente politicamente tenso, após críticas de que o governo está retrocedendo na segurança dos americanos. O discurso de ontem foi uma tentativa de retomar a iniciativa política e reafirmar o argumento de que o fechamento da prisão fortalecerá a segurança nacional. Após a decisão de Obama de fechar a prisão, quatro meses atrás, poucas opções novas surgiram para asfaltar o caminho nessa direção. Para romper o impasse, o Executivo e o Congresso enfrentam escolhas difíceis e politicamente impopulares. "O presidente terá de gastar capital político. Ele terá de se apoiar no povo e qualificar os políticos de covardes", disse John Huston, um almirante reformado que aconselhou Obama sobre a política de detenção durante a campanha eleitoral. "Ele vai ter de recuperar o terreno e a iniciativa. Ele teve a iniciativa, e ela lhe escapou." O contra-ataque começou na quarta-feira, quando um funcionário graduado do Pentágono se contrapôs à crescente oposição no Congresso à transferência dos detidos para os EUA, argumentando que o país deve trazer alguns presos para seu território. "Esse é um caso em que precisamos pedir aos membros do Congresso para adotar pontos de vista mais estratégicos", disse Michele A. Flournoy, subsecretária de Defesa para assuntos de política. "Muitos desses membros pediram o fechamento de Guantánamo e nós precisamos de sua parceria para permitir que isso aconteça." Mas os republicanos se agarraram a observações feitas na quarta-feira pelo diretor do FBI, Robert Mueller, que declarou ao Congresso que os detidos poderiam pôr as prisões nos EUA em risco. Mueller, nomeado por George W. Bush, observou também que alguns criminosos condenados têm comandado gangues em prisões federais, sugerindo que os terroristas também poderiam coordenar ataques do interior de suas celas. Legisladores democratas e ativistas de direitos humanos disseram que Obama precisava, no discurso de ontem, recuperar o terreno perdido para os republicanos no debate sobre Guantánamo. Com a ampliação do apoio público à ideia, Obama poderia evitar batalhas futuras, eles disseram. "Uma coisa que ele precisa fazer é começar a articular os elementos específicos de um plano para fechar Guantánamo", disse Mark Hellman, um democrata perito em pesquisas eleitorais. "O Congresso precisa ouvir isso." O governo foi apanhado numa série de controvérsias sobre segurança nacional nas últimas semanas. Liberais criticaram a relutância em punir os arquitetos das políticas de detenção de Bush, a recusa em divulgar fotos de interrogatórios abusivos e a decisão de manter as comissões militares do governo anterior. Julgamentos nos EUA são vistos como uma solução para o problema dos detidos. O processo em Nova York do primeiro preso de Guantánamo, indiciado pelos atentados a bomba contra as embaixadas americanas em Dar Es-Salaam, na Tanzânia, e Nairóbi, no Quênia, foi planejado há algum tempo, mas só agora foi anunciado. A ruptura do impasse político e legal exigirá de Obama o endosso de políticas adicionais impopulares de seus aliados. Por exemplo, o governo pode ser forçado a transferir alguns detidos para seus países de origem - mesmo com o risco de que esses suspeitos sofram abusos na prisão ou se reintegrem à luta contra os EUA. *Julian E. Barnes e Josh Meyer são comentaristas políticos

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