Governo Trump liga Irã à Al-Qaeda e oposição denuncia tentativa de justificar um ataque

Céticos, parlamentares são cautelosos sobre o uso de laços entre Irã e Al-Qaeda para justificar uma guerra, uma vez que o governo Bush alegou ligações entre Saddam e o grupo para invadir o Iraque em 2003

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON — Membros do governo Trump estão fornecendo informações ao Congresso sobre o que dizem ser ligações entre o Irã e a Al-Qaeda, segundo reportagem do New York Times. A iniciativa despertou reações céticas e preocupações no Capitólio de que a Casa Branca esteja planejando invocar a mesma autorização de guerra de 2001 para dar amparo legal a uma ação militar contra Teerã. 

Mulher passa por mural pintado na parede da antiga Embaixada dos EUA em Teerã. Foto: Vahid Salemi/AP Foto:

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À medida que crescem as tensões entre os EUA e o Irã, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e funcionários do Pentágono têm feito afirmações a membros do Congresso e seus assessores nas últimas semanas sugerindo que criou-se um padrão que liga o Irã a grupos terroristas após os atentados de 11 de setembro de 2001

Eles chegaram a mencionar brevemente a esses parlamentares e assessores que a autorização de 2001 para o uso da força militar dada pelo Congresso, que permitiu aos EUA ir à guerra contra o grupo Al-Qaeda e seus associados, poderia autorizar a administração Trump promover um ataque contra o Irã. O presidente tem dito que não quer uma guerra, mas ordenou o envio de 2,5 mil soldados adicionais ao Oriente Médio nas últimas semanas em resposta ao que oficiais americanos têm considerado uma elevação das tensões. 

Declarações ligando Irã e Al-Qaeda dadas por Pompeo e auxiliares evidenciam a possibilidade de a administração justificar a invocação da autorização de 2001, disseram alguns parlamentares. Quando questionado nas últimas semanas pelos legisladores e jornalistas se a administração poderia usar esse mecanismo legal, Pompeo tem se desviado da questão. 

"Eles estão tentado buscar um argumento para permitir que o presidente faça o que ele quiser sem recorrer ao Congresso, e acham que a autorização de 2001 abrirá caminho para ele ir à guerra com o Irã", disse o senador Tim Kaine, um democrata da Virgínia. 

Kaine, membro da Comissão das Forças Armadas e Relações Exteriores, não quis dar detalhes sobre os briefings sigilosos, mas afirmou que um membro sênior da administração realmente falou sobre o "Irã fornecer um santuário seguro para a Al-Qaeda". 

Pompeo, um ex-diretor da CIA, visitou o Comando Central dos EUA na Flórida na terça-feira para falar sobre Irã com comandantes militares enquanto o secretário de Defesa interino anunciava sua renúncia

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Xiitas e sunitas

O Irã é um país de maioria muçulmana xiita enquanto a Al-Qaeda é um grupo sunita linha-dura cujos membros, em geral, consideram os xiitas apóstatas. País e grupo têm, com frequência, combatido em lados opostos em vários conflitos regionais, incluindo na guerra da Síria

Qualquer relação entre Irã e Al-Qaeda seria uma mera conveniência e não uma aliança real, disseram atuais e ex-integrantes do governo, e não há evidências públicas de que Teerã tenha autorizado a Al-Qaeda operar e elaborar planos de ataques aos EUA em território iraniano ou oferecido um lugar seguro para um grande número de seus integrantes. 

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Parlamentares são cautelosos sobre o uso de laços entre Irã e Al-Qaeda como um pretexto para uma guerra uma vez que a administração do presidente George W. Bush usou exatamente esse argumento, ou seja, laços entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda em 2002 para fortalecer o argumento para a invasão do Iraque. Nunca ficou provado ligações entre o ditador iraquiano e o grupo. 

Após os ataques de 11 de Setembro e antes das forças americanas bombardearem o Afeganistão, mais de uma dezena de importantes membros da Al-Qaeda buscaram refúgio no Irã. As circunstâncias em que passaram a viver no país são obscuras, mas alguns deles, incluindo Saif al-Adel, foram aparentemente detidos por Teerã e, mais tarde, entregues em uma troca de prisioneiros com o braço da Al-Qaeda no Iêmen

Imagem da emissora Al Jazeera sem data mostra, ainda criança,Hamza bin Laden (esq.), cujo pai foi morto durante uma operação militar dos EUA no Paquistão em 2011 Foto: Al-Jazeera TV / Reuters

Analistas de terrorismo afirmam que Hamza bin Laden, filho de Osama bin Laden, esteva no Irã nessa época. Acredita-se que atualmente ele esteja no Paquistão ou no Afeganistão e é considerado um líder em ascensão da Al-Qaeda. Ele não gosta do Irã porque ele e sua mãe foram prisioneiros no país por anos, disse Ali Soufan, um ex-investigador de terrorismo do FBI. / NYT