WASHINGTON — Membros do governo Trump estão fornecendo informações ao Congresso sobre o que dizem ser ligações entre o Irã e a Al-Qaeda, segundo reportagem do New York Times. A iniciativa despertou reações céticas e preocupações no Capitólio de que a Casa Branca esteja planejando invocar a mesma autorização de guerra de 2001 para dar amparo legal a uma ação militar contra Teerã.
À medida que crescem as tensões entre os EUA e o Irã, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e funcionários do Pentágono têm feito afirmações a membros do Congresso e seus assessores nas últimas semanas sugerindo que criou-se um padrão que liga o Irã a grupos terroristas após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Eles chegaram a mencionar brevemente a esses parlamentares e assessores que a autorização de 2001 para o uso da força militar dada pelo Congresso, que permitiu aos EUA ir à guerra contra o grupo Al-Qaeda e seus associados, poderia autorizar a administração Trump promover um ataque contra o Irã. O presidente tem dito que não quer uma guerra, mas ordenou o envio de 2,5 mil soldados adicionais ao Oriente Médio nas últimas semanas em resposta ao que oficiais americanos têm considerado uma elevação das tensões.
Declarações ligando Irã e Al-Qaeda dadas por Pompeo e auxiliares evidenciam a possibilidade de a administração justificar a invocação da autorização de 2001, disseram alguns parlamentares. Quando questionado nas últimas semanas pelos legisladores e jornalistas se a administração poderia usar esse mecanismo legal, Pompeo tem se desviado da questão.
"Eles estão tentado buscar um argumento para permitir que o presidente faça o que ele quiser sem recorrer ao Congresso, e acham que a autorização de 2001 abrirá caminho para ele ir à guerra com o Irã", disse o senador Tim Kaine, um democrata da Virgínia.
Kaine, membro da Comissão das Forças Armadas e Relações Exteriores, não quis dar detalhes sobre os briefings sigilosos, mas afirmou que um membro sênior da administração realmente falou sobre o "Irã fornecer um santuário seguro para a Al-Qaeda".
Pompeo, um ex-diretor da CIA, visitou o Comando Central dos EUA na Flórida na terça-feira para falar sobre Irã com comandantes militares enquanto o secretário de Defesa interino anunciava sua renúncia.
Xiitas e sunitas
O Irã é um país de maioria muçulmana xiita enquanto a Al-Qaeda é um grupo sunita linha-dura cujos membros, em geral, consideram os xiitas apóstatas. País e grupo têm, com frequência, combatido em lados opostos em vários conflitos regionais, incluindo na guerra da Síria.
Qualquer relação entre Irã e Al-Qaeda seria uma mera conveniência e não uma aliança real, disseram atuais e ex-integrantes do governo, e não há evidências públicas de que Teerã tenha autorizado a Al-Qaeda operar e elaborar planos de ataques aos EUA em território iraniano ou oferecido um lugar seguro para um grande número de seus integrantes.
Parlamentares são cautelosos sobre o uso de laços entre Irã e Al-Qaeda como um pretexto para uma guerra uma vez que a administração do presidente George W. Bush usou exatamente esse argumento, ou seja, laços entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda em 2002 para fortalecer o argumento para a invasão do Iraque. Nunca ficou provado ligações entre o ditador iraquiano e o grupo.
Após os ataques de 11 de Setembro e antes das forças americanas bombardearem o Afeganistão, mais de uma dezena de importantes membros da Al-Qaeda buscaram refúgio no Irã. As circunstâncias em que passaram a viver no país são obscuras, mas alguns deles, incluindo Saif al-Adel, foram aparentemente detidos por Teerã e, mais tarde, entregues em uma troca de prisioneiros com o braço da Al-Qaeda no Iêmen.
Analistas de terrorismo afirmam que Hamza bin Laden, filho de Osama bin Laden, esteva no Irã nessa época. Acredita-se que atualmente ele esteja no Paquistão ou no Afeganistão e é considerado um líder em ascensão da Al-Qaeda. Ele não gosta do Irã porque ele e sua mãe foram prisioneiros no país por anos, disse Ali Soufan, um ex-investigador de terrorismo do FBI. / NYT