Governos europeus convocam reunião de crise

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os governos europeus convocaram uma reunião de crise para amanhã, em Bruxelas, onde deverão estar os ministros do Exterior para coordenar ações especialmente sobre política de segurança dos 15 países da União Européia (UE), diante da repercussão dos atentados de Nova York e Washington. Se falhas importantes no sistema de segurança norte-americano ficaram evidenciadas, nenhum deles tem dúvida de que atos terroristas poderão se reproduzir em qualquer país europeu. Assim que foram informados do atentado, o presidente Jacques Chirac, que estava no interior da França, voltou a Paris, e o primeiro-ministro Lionel Jospin reuniu na capital francesa um gabinete de crise com a presença dos ministros da Defesa, do Interior, do Exterior e dos Transportes, e adotou medidas preventivas, imediatamente aplicadas. Um policiamento especial foi montado nos imóveis da embaixada e do consulado americanos, e a concessão de vistos foi suspensa. Os ministros da Defesa e do Interior da UE prometem também coordenar suas ações de caráter preventivo. A operação "vigipirate", de alta segurança, adotada quando dos atentados praticados em anos anteriores em Paris, foi reativada. Ela consiste em reforçar a segurança nos aeroportos, estações ferroviárias, ministérios e órgãos públicos. O ministro dos Transportes, Jean Claude Gayssot, anunciou a suspensão de todos os vôos da Air France para os EUA, e os que haviam decolado antes dos atentados foram obrigados a voltar. Veículos de combate foram postos na pista dos aeroportos de Roissy e Orly para proteger os aviões. Os controles foram reforçados e as forças armadas postas em estado de alerta. As medidas adotadas se justificam, pois além de a França abrigar uma forte população de origem árabe e de já ter sido palco de uma série de atentados terroristas, ela sempre esteve envolvido no Oriente Médio, onde adota uma política tida como pró-árabe. Durante a noite Jospin presidiu um encontro do chamado "Conselho Restrito", do qual só participam, além do primeiro-ministro Jospin, os ministros da área de segurança. Esses ataques, segundo diversos especialistas franceses e norte-americanos na França, foi "uma repetição de Pearl Harbour ainda mais grave", afirma Denis Lacorne, pesquisador e especialista de política norte-americana. Isso porque os ataques de hoje atingiram milhares de civis, ao contrário do ataque japonês que decretou a entrada dos EUA na 2ª Guerra, restrito a uma base militar. Esses dois alvos foram mais simbólicos que Pearl Harbour, atingindo o coração do poder econômico dos EUA, representado pelo World Trade Center, e do poder militar, o Pentágono. A especialista francesa em Oriente Médio Agnés de Lavallois diz que já há algum tempo os países árabes moderados, especialmente a Árabia Saudita e o Egito, vinham exercendo pressão sobre o governo Bush, preocupados com a ausência do governo americano no Oriente Médio e chegando mesmo a temer uma onda terrorista. Ela afasta a participação de pequenos grupos palestinos do tipo FPLP, Hamas, Djihad Islâmico, etc., que não possuem estrutura suficiente para coordenar uma série de atentados como os ocorridos nesta terça-feira. Já o professor da Universidade Americana de Paris Steve Ecowit diz que, ao contrário do que alguns analistas imaginam, esses atentados não fragilizam a posição do presidente Bush em relação à opinião pública, e o presidente poderá contar com a solidariedade da opinião pública para agir. O professor estranha que quando o governo dos EUA participa diretamente das negociações é criticado por imiscuir-se demais na política do Oriente Médio, o mesmo ocorrendo quando deixa de participar do processo de paz. Os especialistas europeus não acreditam também que os atentados possam ter contado com o apoio logístico de certos Estados anteriormente favoráveis ao terrorismo, como Irã, Síria, Líbia e Iraque. Por isso, todas as atenções estão voltadas para Bin Laden, o milionário saudita e seus US$ 300 milhões que ele destinou ao combate de Israel e aos EUA. O especialista francês e editorialista do semanário Courrier International, Alexander Adler, cita Bin Laden como o nome mais provável, lembrando o apoio que ele mantém de certos círculos na Árabia Saudita, inclusive próximos da família real, e suas ligações com os muçulmanos do Paquistão. Ele não afasta a possibilidade de os pilotos suicidas terem sido recrutados neste país.

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