Governos pedem fechamento da prisão de Guantânamo

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Por Agencia Estado
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O anúncio dos suicídios de três homens na prisão da base naval de Guantânamo, Cuba, gerou tensões entre Washington e governos que normalmente apóiam políticas norte-americanas. Os governos da Alemanha, Inglaterra, Dinamarca e Suécia figuram entre os que pediram o fechamento da prisão, após as mortes de dois sauditas e um iemenita. O contra-almirante americano Harry Harris afirmou que os suicídios "não foram um ato de desespero, e sim um ato de guerra" contra os Estados Unidos. As mortes geraram questionamentos quanto à situação dos prisioneiros em Guantánamo, que tem cerca de 460 detidos por ligações com o regime do Taleban no Afeganistão ou a rede terrorista Al-Qaeda. Muitos deles estão presos há mais de quatro anos sem acusação formal. Três ex-detentos da prisão militar disseram que os prisioneiros, deprimidos e desesperados, tentam se matar para escapar de uma situação que consideram sem saída e não porque buscam o martírio. "Não existe esperança em Guantánamo. As únicas coisas que passam por nossas cabeças, dia após dia, são como obter justiça ou como se matar", disse no sábado Shafiq Rasul, ex-prisioneiro de 29 anos que fez greve de fome na prisão para protestar contra supostos espancamentos. "É o desespero - e não a idéia do martírio - que nos consome lá." A interpretação da secretária assistente dos EUA para a Diplomacia Pública vai na direção contrária daquela dos ex-detentos. Em entrevista à BBC, Colleen Graffy, disse que os suicídios tiveram o objetivo de chamar a atenção, numa "manobra de relações públicas". Para ela, os dois sauditas e o iemenita que se enforcaram com seus lençóis e roupas não davam valor às suas vidas. Reprovações Mesmo com a versão de autoridades americanas de que as mortes não foram provocadas pelo desespero dos prisioneiros em Guantánamo, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu, segundo a agência EFE, um tratamento diferente para os prisioneiros e afirmou, em visita a Washington, que "uma instituição como Guantánamo não pode nem deve existir no longo prazo". Antes da visita, Merkel já havia pedido o fechamento da prisão. Segundo a Associated Press, o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, avalia que o centro de detenção na Baía de Guantánamo é um ponto fraco no combate ao terrorismo e deve ser fechado. Rasmussen, que apóia a guerra no Iraque, disse que as detenções sem procedimentos legais que ocorrem na prisão estão em contradição com o princípio da Lei. O ministro do Exterior da Suécia, Jan Eliasson, disse que os três suicídios mostraram a importância de fechar a prisão americana em Guantánamo e de levar os prisioneiros a julgamento ou dar a eles liberdade. Em entrevista à BBC, o ministro para Assuntos Constitucionais do Reino Unido, Harriet Harman, questionou a localização da prisão em Guantánamo. "Se é perfeitamente legal e não há nada de errado ocorrendo lá (prisão em Guantánamo), porque ela não fica nos Estados Unidos, onde a corte americana pode supervisioná-la?" Mortes Os prisioneiros da base naval de Guantánamo, aparentemente cometeram suicídio, em meio a um protesto de ocupantes do centro de detenção militar dos EUA, em Cuba. Dois deles eram sauditas e o terceiro era natural do Iêmen. De acordo com um comunicado do Comando do Sudoeste, com base em Miami, os detidos não responderam a estímulos e não respiravam quando foram encontrados em suas celas, na manhã de sábado. Foram realizadas tentativas de reanimação, mas sem sucesso. No comunicado, os militares afirmaram que "todas as medidas de reanimação foram usadas à exaustão" na tentativa de reanimar os prisioneiros. O texto também afirma que os corpos estavam recebendo todo o respeito devido, uma questão importante para os muçulmanos.

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