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Grafite brasileiro revitaliza comunidade destruída por tsunami no Japão

'Titi Freak' pintou as paredes de 15 blocos residenciais em Ishinomaki, facilitando o acesso e levantando o moral

Por Christina Stephano de Queiroz
Atualização:

ISHINOMAKI, JAPÃO - Como parte dos esforços de reconstrução após o terremoto e o tsunami que destruíram o Japão em março deste ano, a Embaixada do Brasil em Tóquio e a Fundação Japão levaram um grafiteiro brasileiro para revitalizar um complexo de residências para desabrigados na cidade de Ishinomaki, no norte do país. O projeto, que inicialmente pretendia somente dar uma identidade visual à comunidade, acabou por levantar o moral dos habitantes e transformar o artista em herói local. Veja imagens abaixo.

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Localizada em uma das zonas mais afetadas pela tragédia, a comunidade abriga cerca de 2 mil moradores, que vivem em espécies de contêineres equipados com geladeira, fogão e internet banda larga. Juntos, os contêineres formam um condomínio de caixas brancas idênticas, que dificultam o trabalho de carteiros e ambulâncias. "Alguns moradores até se perdem", conta André Souza Machado Cortez, chefe do setor cultural e de divulgação da Embaixada do Brasil em Tóquio. De acordo com ele, grande parte dos moradores que permaneceram na comunidade são pessoas da terceira idade, já que famílias com crianças foram para lugares mais bem estruturados. "Além disso, como as pessoas perderam suas casas e todos os seus pertences, estão com o moral muito baixo. Muitas estão deprimidas", afirma Cortez.

 

Por outro lado, destaca o representante da Embaixada, no Brasil, existe um forte movimento de arte urbana, principalmente nas grandes cidades. "Além disso, há cerca de 1,5 milhão de descendentes diretos de japoneses no Brasil e 230 mil brasileiros residentes no Japão atualmente. Dessa forma, a ligação humana entre os dois países é um grande patrimônio que possuem em comum", avalia. E, segundo ele, o grafite foi escolhido para o projeto por ser uma arte espontânea, cheia de cores e democrática.

 

Assim, a Embaixada apresentou à Fundação Japão uma série de artistas urbanos que poderiam realizar oficinas de grafite e estêncil. Titi Freak (nome artístico de Hamilton Yokota), descendente de japoneses que, em novembro, mudou-se para Osaka com a esposa e o filho, foi o artista escolhido para participar do projeto. Os preparativos envolveram duas viagens anteriores a Ishinomaki, que permitiram aos organizadores conhecer as necessidades dos moradores locais e ver de perto a destruição provocada pelo desastre.

 

'Grandes amigos'

 

"No primeiro dia de trabalho, senti desconfiança por parte dos moradores, principalmente dos mais idosos. Os japoneses não veem o grafite da mesma forma que os brasileiros. No Brasil, há uma proximidade maior com a arte de rua", avalia Titi Freak. Após 10 dias de trabalho, ele pintou 15 blocos residenciais, com cerca de 10 casas cada um. "No final, a barreira foi rompida a acabei fazendo grandes amigos", conta o artista.

 

Hideki Hara, um dos diretores da Fundação Japão destaca que, além da idade avançada de alguns moradores, Ishinomaki é uma cidade do interior e não está acostumada com manifestações urbanas como o grafite. "A ideia inicial era somente dar identidade visual às casas e divertir um pouco os moradores. No final, levantamos o moral dos habitantes e Titi se tornou um herói local", conta o diretor.

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De acordo com Hara, o governo diz que os moradores devem permanecer somente dois anos nas residências temporárias de Ishinomaki. Os habitantes, no entanto, consideram essa estimativa muito otimista e acreditam que ficarão na comunidade por cerca de cinco anos.

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