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Grandes tempestades exigem governos onipresentes

Romney tem a ideia absurda de passar a responsabilidade pelo socorro e o peso dos prejuízos de desastres naturais para os Estados

Por EDITORIAL DO NYT
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AnáliseMuitos americanos jamais ouviram falar do National Response Coordination Center, mas são sortudos por ele existir em dias de ventanias letais e marés altas. Ele é o centro de comando Agência Federal para o Gerenciamento de Emergências (Fema, na sigla em inglês), onde as autoridades se reúnem para decidir para onde os socorristas devem ir, onde distribuir água e como auxiliar hospitais que precisam remover seus pacientes. A coordenação do socorro em situações de desastre é uma das funções mais vitais do "governo onipresente", que Mitt Romney quer eliminar. Num debate por ocasião das primárias republicanas, Romney foi indagado se o gerenciamento de emergências era uma função que devia ser devolvida para os Estados. Ele não só concordou como foi mais além. "Certamente", afirmou. "Sempre que existe a oportunidade de tirar alguma coisa do governo federal e devolver para os Estados, esse é o caminho certo. E, se formos mais além, e enviarmos para o setor privado, melhor ainda." Segundo ele, é "imoral" o governo federal se encarregar de tudo se isso significar aumento do déficit. É uma ideia absurda, mas totalmente coerente com décadas de resistência republicana ao programa federal para situações de emergência. A agência, criada pelo presidente Jimmy Carter, foi elevada ao gabinete no governo de Bill Clinton, mas depois rebaixada pelo presidente George W. Bush, que a ignorou e a incorporou no Departamento de Segurança Interna, passando a ser controlada por políticos. O desastre do furacão Katrina foi só uma questão de tempo. A agência voltou a funcionar no governo Obama, mas a ideologia ainda deixa os republicanos cegos para seu valor. Muitos não gostam da ideia de auxiliar gratuitamente os pobres ou acham que as pessoas devem pagar por suas decisões equivocadas - que esta semana inclui viver na Costa Leste. Nos últimos dois anos, os republicanos do Congresso forçaram uma redução de 43% das verbas que garantem a prontidão e a preparação da agência para gerenciar situações de desastre. O orçamento idealizado por Paul Ryan, que Romney elogiou como "um trabalho excelente", resultará em enormes cortes de verbas para a agência, como também em reduções insufladas pelos republicanos, que diminuiriam a ajuda em 8,2%, além dos cortes feitos anteriormente. Romney realmente acredita que Estados passando por dificuldades financeiras farão um trabalho melhor do que uma agência federal funcionando adequadamente? Quem decidirá para onde enviar a ajuda federal? Ou talvez não exista nenhuma ajuda federal e cada Estado arque com o ônus de bilhões de dólares de estragos. Depois que comentários feitos por Romney, em 2011, voltaram a circular na segunda-feira, sua campanha inquieta anunciou que ele não pretende acabar com a Fema, mas ainda acredita que os Estados devem se encarregar do gerenciamento de emergências. Todos aqueles que se encontram no caminho do Sandy têm sorte por essa ideologia não ter substituído a política responsável. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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