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Gravação de Bin Laden pode complicar guerra ao Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora a autenticidade da gravação que a rede de televisão Al Jazira, do Catar, atribuiu a Osama bin Laden ainda não estivesse totalmente confirmada, a decisão da administração Bush, de tratá-la como se fosse verdadeira, introduziu um importante complicador potencial nos planos de guerra contra o Iraque, em preparação na Casa Branca. Com a ofensiva militar contra o regime de Saddam Hussein temporariamente congelada pela aceitação, pelo ditador iraquiano, dos termos da rigorosa resolução sobre inspeção de armas de destruição em massa que o Conselho das Nações Unidas aprovou na semana passada, o fato de o líder da Al-Qaeda estar vivo e atuante reabriu o debate sobre a estratégia da guerra contra o terrorismo e coloca uma pergunta: se os EUA ainda não conseguiram apanhar o autor assumido de ações terroristas que causaram a morte de mais de 3 mil pessoas, em duas ações no território americano, além de bilhões de dólares em prejuízos, como justificar uma ação militar em larga escala contra um país que é, por ora, apenas suspeito de ter planos e condições de construir armas de destruição em massa para uso contra alvos associados a interesses dos EUA? O líder dos democratas no Senado, Thomas Daschle, disse hoje que a falha das autoridades em capturar Bin Laden levanta questões "sobre se estamos ou não vencendo a guerra contra o terror". E acrescentou: "Se não encontramos Bin Laden, realmente não fizemos progresso real para localizar elementos-chave da Al-Qaeda; eles continuam a ser uma ameaça tão grande hoje quanto eram um ano e meio atrás." Diante de a possibilidade real de Bin Laden estar vivo e no controle da estrutura de comando da Al-Qaeda, ganha novo significado a avaliação que o chefe do Estado-Maior conjunto americano, general Richard B. Myers, fez na última quinta-feira, quando disse a um grupo de acadêmicos, em Washington, que a guerra contra o terror no Afeganistão está patinando por causa da capacidade do que resta da Al-Qaeda e do Taleban de adaptar-se. É sabido, em Washington, que o Pentágono tem sido um dos principais focos de resistência à opção de uma guerra contra o Iraque. É de lá que saíram vários documentos e informações publicados pela grande imprensa americana nos últimos meses, indicando a preferência dos generais pela continuação da política de contenção de Saddam Hussein, adotada depois da Guerra do Golfo. Richard Cohen, um colunista do Washington Post, lembrou hoje a preocupação do Ministério da Defesa em varrer para baixo do tapete o insucesso da operação que realizou nas montanhas de Bora-Bora, um ano atrás, e que provavelmente permitiu a Bin Laden fugir. "Tentamos, com muito empenho, não personalizar" a guerra contra o terror, disse, na época, a porta-voz do Pentágono, Tory Clark, ao ser perguntada sobre o paradeiro do líder da Al-Qaeda. Em discurso, hoje, Tom Ridge, o diretor do escritório da Segurança Interna da Casa Branca, que deve ser em breve elevado ao status de ministério, referiu-se à gravação atribuída ao líder terrorista como autêntica ao falar sobre "as declarações de Bin Laden nas últimas 24 a 48 horas". O porta-voz de Ridge ressalvou, depois, que a alusão que ele fez a Osama bin Laden não deveria ser tomada como uma confirmação de autenticidade da gravação. Na declaração, Bin Laden ou um hábil imitador referem-se a vários atentados terroristas recentes, como os ataques contra uma boate em Bali, o ataque de rebeldes muçulmanos chechenos a um teatro em Moscou e o assassinato de um diplomata americano na Jordânia.

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