Alvo de críticas por causa do vídeo clandestino que mostra o enforcamento de Saddam Hussein, autoridades iraquianas disseram na quarta-feira que havia pessoas infiltradas na câmara de execução que visavam apenas estimular as tensões sectárias no país. O vídeo, aparentemente gravado por meio de um telefone celular e que mostra funcionários xiitas xingando o ex-presidente, provocou manifestações de irritação entre os árabes sunitas, etnia de Saddam, além de causar condenação internacional. O governo xiita, desconfortável com as imagens que mostram um Saddam aparentemente tranqüilo, sujeito a ofensas sectárias enquanto o laço é colocado em seu pescoço, criou uma comissão para investigar quem gravou e divulgou o vídeo. "Quem vazou esse vídeo pretendia abalar a reconciliação nacional e cavar um abismo entre xiitas e sunitas", disse o conselheiro de Segurança Nacional, Mowaffaq al-Rubaie, que estava presente à execução, no sábado, junto com cerca de 20 autoridades. Um funcionário do Ministério do Interior afirmou que milicianos conseguiram se misturar à equipe que realizou a execução. Reconciliação prejudicada O vídeo oficial do enforcamento, sem som, termina antes de o cadafalso se abrir e serviu para reforçar a autoridade do premiê Nuri al-Maliki entre seus aliados xiitas. Mas as novas imagens revoltaram os sunitas e prejudicaram os esforços do premiê para conseguir a reconciliação nacional. As Forças Armadas dos EUA, responsáveis pela custódia de Saddam, disseram na quarta-feira que não participaram da execução, mas que teriam feito as coisas de forma diferente. Segundo o major-general William Caldwell, todas as medidas de segurança, inclusive a apreensão de telefones celulares, ficaram a cargo dos iraquianos. Ele disse que os soldados norte-americanos deixaram o edifício logo depois de entregá-lo. "Não tínhamos absolutamente nada a ver com as instalações onde a execução aconteceu", disse Caldwell. De acordo com o promotor Munkith al-Faroon, que também assistiu ao enforcamento, as ofensas partiram de guardas que estavam fora da câmara. "Os gritos foram espontâneos", disse ele à Al Jazeera. No vídeo, porém, Saddam aparece reagindo às pessoas que estão abaixo dele. Os gritos de apoio ao líder radical xiita Moqtada al-Sadr parecem vir de perto do telefone. Um assessor de Maliki negou as informações de que um guarda havia sido preso por causa do vídeo clandestino.