Greve de professor se transforma em risco para Obama

Mitt Romney aproveita-se de paralisação em Chicago para acusar presidente de tomar partido dos sindicatos

PUBLICIDADE

Por Denise Chrispim Marin e correspondente em Washington
Atualização:

WASHINGTON - A greve iniciada nesta segunda-feira, 10, por 26 mil professores da rede de ensino público de Chicago converteu-se em munição eleitoral. Berço político e sede da campanha do presidente americano, Barack Obama, a cidade é governada por seu ex-chefe de gabinete Rahm Emanuel. Antes de desembarcar em Chicago para arrecadar fundos para sua campanha, o republicano Mitt Romney acusou Obama de apoiar o sindicato, em prejuízo das crianças e de Emanuel.

A greve foi decidida na sexta-feira pelo sindicato dos professores da cidade, ao ser constatado o impasse na negociação com a prefeitura sobre os termos da reforma do terceiro maior sistema escolar dos EUA. Foi a primeira paralisação em 25 anos.

PUBLICIDADE

Os pais de cerca de 350 mil estudantes foram informados, na noite anterior, que as escolas - nas quais 80% das crianças de baixa renda se alimentam - estariam fechadas.

Ditadas pela prefeitura e apoiadas pelo Departamento de Educação, as novas regras envolvem o aumento da permanência diária dos estudantes nas escolas e, portanto, da jornada dos professores.

Eles receberiam, como compensação, um aumento de 2% nos seus salários. No entanto, estariam sujeitos a uma avaliação periódica, com base nos resultados escolares de seus alunos.

Segundo a presidente do sindicato local, Karen Lewis, os exames não levam em conta o ambiente de violência e ódio em torno das escolas dos bairros mais pobres. A entidade estima que 25% dos professores perderiam seus empregos em razão desses testes. Cerca de 500 já foram demitidos. A readmissão desses professores faz parte das reivindicações da categoria.

"Os sindicatos dos professores, frequentemente, mostram que seus interesses estão em conflito com o das nossas crianças. Hoje, estamos vendo um dos exemplos claros disso", declarou Romney, por meio de comunicado. "O presidente Obama escolheu seu lado nessa briga, ao mandar seu vice-presidente (Joe Biden) dizer aos maiores sindicatos, no ano passado, para não terem dúvidas sobre o seu afeto por eles e o compromisso do presidente com eles."

Publicidade

A declaração de Romney motivou reações da Casa Branca, da campanha de Obama e do próprio Emanuel. "Eu agradeço a intenção (de Romney), mas o que realmente conta é o que estamos fazendo aqui. Eu não darei eco a comentários nacionais escudados em intenções políticas ou para constranger o presidente", reagiu o prefeito. "Jogos políticos com base em disputas locais não ajudam a educar as nossas crianças", rebateu o porta-voz da campanha de Obama, Ben LaBolt.

Na Casa Branca, o porta-voz Jay Carney indicou o desejo de Obama em manter-se neutro. "Esperamos que ambos os lados estejam dispostos a chegar a um acordo rapidamente, conforme o melhor para o interesse dos estudantes de Chicago", afirmou.

A disputa, porém, pode prejudicar a campanha eleitoral no seu quintal político, o Estado de Illinois, e, se for reproduzida na vizinhança, afetar sua votação no Meio-Oeste.

Romney claramente aposta nesse cenário. Por enquanto, Illinois e sua principal cidade, Chicago, são terrenos fiéis a Obama. Mas não se pode dizer o mesmo de Estados como Wisconsin, Michigan e Ohio, nos quais a corrida com Romney está tecnicamente empatada.

Pesquisas

As mais recentes pesquisas nacionais de opinião, realizadas durante ou depois das convenções dos partidos Democrata e Republicano, aumentaram as desvantagens do republicano. A média das consultas calculada pelo Real Clear Politics mostrou Obama com 48,3% das intenções de voto, contra 45,4% de Romney.

Dentre as pesquisas consideradas, a divulgada nesta segunda-feira pela CNN/Opinion Research indicou 52% para o presidente e 46% para o republicano. Diferença parecida foi registrada no estudo do instituto Rasmussen - 50% a 45%. O Gallup mostrou 49% para Obama e 44% para Romney.  

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.