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Greve na França afeta transportes, escolas e correios

Movimento ocorre depois de derrota do presidente Nicolas Sarkozy nas eleições regionais do último domingo.

Por Daniela Fernandes
Atualização:

A França enfrenta nesta terça-feira uma greve que deve afetar principalmente os transportes, escolas e correios e que também pode ter a participação de trabalhadores do setor privado. O protesto, que havia sido marcado em fevereiro, ocorre em um momento delicado para o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que saiu bastante enfraquecido da ampla derrota de seu partido, o UMP, nas eleições regionais do último domingo. Cerca de 80 passeatas foram marcadas em todo o país para defender o aumento do poder aquisitivo e, sobretudo, protestar contra a reforma da previdência, que começa a ser discutida em abril. Segundo a direção da estatal ferroviária SNCF, 28,3% dos funcionários estão em greve. Em Paris, algumas linhas de metrô estão funcionando quase normalmente, enquanto que outras registram metade dos vagões em circulação. Os jornais franceses questionam se a mobilização desta terça-feira poderia representar um "terceiro turno", desta vez social, para o presidente Sarkozy, após os dois turnos das eleições regionais. Derrotas O partido do governo não conseguiu vencer nem mesmo no "quartel-general" do presidente, o departamento de Hauts-de-Seine, subúrbio elegante de Paris onde ele iniciou e desenvolveu sua carreira política e que havia votado maciçamente em Sarkozy nas eleições presidenciais de 2007. Das 26 regiões francesas, o UMP conseguiu manter apenas a Alsácia e conquistou os departamentos ultramarinos da Guiana e da Reunião. A esquerda francesa obteve nessa votação seu melhor resultado em quase 30 anos. Em razão da forte derrota eleitoral, a margem de manobra de Sarkozy para realizar as reformas consideradas polêmicas, como a da aposentadoria, ficou reduzida, segundo especialistas. Sarkozy, em queda livre nas últimas pesquisas de opinião, passou a ser criticado entre seu eleitorado tradicional da direita e membros de seu próprio partido. Promessas de campanha não cumpridas, como o aumento do poder aquisitivo da população, além de ações políticas, como a entrada em seu governo de personalidades da esquerda, contribuíram para o descontentamento dos eleitores, agravado pelo aumento do desemprego. Reformas e medidas polêmicas, como o "imposto sobre emissões de dióxido de carbono", que deveria ser cobrado das residências e das empresas, foram mal vistas em um contexto de crise econômica. O resultado das urnas parece estar sendo levado em conta na linha de ação do governo. Nesta terça-feira, o governo teria abandonado a ideia de criar esse polêmico imposto, segundo o site do jornal Le Monde. Estilo pessoal Outro fator de peso que explica a decepção do eleitorado do UMP é o próprio estilo pessoal de Sarkozy, que não corresponderia ao rigor exigido pela função presidencial. Segundo uma pesquisa do Instituto CSA para o jornal Le Parisien, divulgada na segunda-feira, 54% dos franceses afirmam que Sarkozy deve "adotar um estilo mais presidencial". Episódios como a nomeação de seu filho, de 23 anos, para comandar um importante órgão, que acabou sendo derrubada diante das críticas, também criaram dúvidas sobre a maneira como Sarkozy exerce a função presidencial. Diante do descontentamento de políticos de seu partido, que o criticaram fortemente na última semana, Sarkozy realizou na segunda-feira uma minirreforma do gabinete, com a saída de dois ministros, entre eles o do Trabalho, substituído pelo ministro do Orçamento. Entraram para o governo aliados dos centristas, do ex-presidente Jacques Chirac e também do ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin, concorrente potencial para representar o UMP nas eleições presidenciais de 2012. Segundo analistas, essa iniciativa de Sarkozy visa reunir as diferentes correntes da maioria presidencial para evitar adversários em seu próprio campo à aprovação das reformas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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