Greve pára a Itália por 8 horas

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Itália parou nesta quinta-feira por 8 horas. A greve geral, marcada pelos principais sindicatos do país - Cgil, Cisl e Uil -, para protestar contra a política econômica e social do governo Berlusconi, contou com a adesão de 90% dos trabalhadores, segundo fontes sindicais. De acordo com os números da Confederação das Indústrias, no entanto, o índice de participação foi de 60%. Até a companhia elétrica, a Enel, entrou na guerra das cifras. As análises sobre o consumo de eletricidade na terça-feira revelaram uma diminuição de 20% - como nos domingos. O transporte público parou, 53% dos trens não funcionaram e 276 vôos foram cancelados no aeroporto Fiumicino, da capital. Também aderiram à greve trabalhadores da indústria, agricultura, setor terciário, público e de serviços, parte do comércio e imprensa. Os hospitais atenderam apenas os casos de emergência. Houve manifestações nas praças das principais cidades. Segundo os organziadores, participaram delas cerca de 2 milhões de pessoas. Em Florença, diante de 400 mil manifestantes, Sergio Cofferati, secretário do maior sindicato italiano - Cgil -, disse entusiasmado: "Foi um domingo no meio da semana, o governo deve refletir". Aclamado pelo público, Cofferati, que deixa o cargo em junho e provavelmente entrará na política como um dos principais líderes da esquerda italiana, foi interrompido 35 vezes no discurso de 45 minutos que fez. Nele, negou que se tratasse de uma greve política - como acusou a coalizão governante -, e confirmou que os sindicatos não vão renunciar ao artigo 18 do estatuto dos trabalhadores. O sindicalista, assim como os secretários das outras confederações, define esta como questão fundamental para retomar as negociações com o governo. O artigo 18 é o principal motivo da greve desta terça. Ele garante que os trabalhadores demitidos sem justa causa sejam readmitidos, ponto que o governo de centro-direita pretende modificar, eliminando a possibilidade de readmissão em alguns casos. "Eles querem que milhões de pessoas tenham medo de ser demitidas sem motivo, querem amedrontar para obter salários mais baixos e condições piores de trabalho", comentou no final da manifestaçao de Bolonha Luigi Angeletti, líder da Uil- União Italiana dos Trabalhadores, uma das principais confederações sindicais. "É um problema de poder: querem súditos, cidadãos sem direitos, gente obrigada a baixar a cabeça." Silvio Berlusconi se disse satisfeito com o fato de a greve ter acontecido num clima sereno, com os líderes sindicais "tranqüilos" e anunciou o retorno às negociações o mais rápido possível. Mas também não parece ter a intenção de voltar atrás. "E´ preciso fazer as reformas, que são necessárias, quem pede isso é a Europa e nossos eleitores", afirmou, exibindo as últimas pesquisas de opinião em seu poder, pelas quais a aprovação a seu governo seria de 68%. Dias atrás, foi criticado abertamente pelos empresários pelo atraso nas reformas. O vice-premier, Gianfranco Fini, foi mais explícito e deixou clara a posição do governo, tranqüilizando o empresariado. "A greve é um direito legítimo, neste caso com um fortíssimo significado político. O diálogo vai ser retomado, mas o governo não vai voltar atrás na decisão de modificar o artigo 18". Nao está claro como vai ser possível sair desse impasse. Se não houver acordo, a esquerda italiana está pronta para propor um referendo.

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