Greve paralisa seis dos nove departamentos da Bolívia

Evo condena grevistas que protestavam contra aprovação, em Sucre, de projeto de nova Constituição

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Por Ruth Costas
Atualização:

Sucre - Uma greve geral paralisou ontem os departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni, Pando, Cochabamba e Chuquisaca - responsáveis por 80% do PIB boliviano. Todos os aeroportos da região foram fechados, táxis e ônibus não circularam. Em algumas cidades como Sucre e Cochabamba, carros e montes de areia foram usados para bloquear as ruas. O presidente Evo Morales condenou o movimento num discurso para centenas de pessoas na Praça Murillo, em La Paz. "Essa greve serve para defender o modelo neoliberal que tanto dano causou ao nosso país", disse, num comício organizado para comemorar a aprovação de uma bolsa-auxílio para idosos bolivianos. A paralisação foi um protesto contra a aprovação, no sábado, de um projeto de Constituição, numa sessão da qual não participaram parlamentares opositores. "Essa Carta está manchada de sangue", disse ontem o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic. A greve também tinha como objetivo "prestar solidariedade" à cidade de Sucre, em Chuquisaca, na qual três pessoas morreram em confronto com a polícia no fim de semana, e repudiar o projeto do governo para financiar um auxílio para idosos com dinheiro dos departamentos. Apesar das hostilidades e da retórica inflamada que tem caracterizado as relações dessas regiões com o governo boliviano nos últimos dias, o clima ontem era de relativa tranqüilidade na maior parte das regiões. A exceção foi Cochabamba, onde simpatizantes de Evo entraram em choque com opositores e a polícia teve de intervir. Em Santa Cruz, grupos radicais obrigaram comerciantes que não aderiram à greve a fechar as portas. Em Sucre, crianças jogavam bola na praça central onde quatro dias antes bombas de gás lacrimogêneo tornavam o ar irrespirável. "Muitos comerciantes fecharam as portas porque foram ameaçados de retaliação se não o fizessem", disse ao Estado Ivan Contreras, porta-voz da representação da presidência boliviana em Sucre, para quem o objetivo da greve é "romper o pacto social e o consenso formado em torno de Evo quando ele foi eleito". A maior parte do comércio e serviços públicos do centro da cidade não funcionou, mas as pequenas mercearias abriram e os ambulantes circularam. "Quem vai pagar as minhas contas se eu não trabalho?", diz Abel Delgadillo, ambulante, de 33 anos. "Greve é pra quem pode." De manhã, o governo ordenou a volta da polícia a Sucre. No fim de semana, todos os policiais da cidade (mais de 400) fugiram para Potosí, a três horas de distância, depois que as delegacias e centros de vigilância foram atacados por estudantes. Segundo o comandante Raúl Mantilla, de Potosí, as forças de segurança oficiais chegaram a partir ontem de volta para Sucre. Mas os policiais se reuniram na estrada com um comitê encabeçado pela prefeita, que lhes informou que ainda não havia condições para o retorno. No fim da tarde, sua chegada ainda estava sendo negociada. Os departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando exigem maior autonomia, que lhes permita aumentar o controle sobre os seus recursos e garantir independência de La Paz.

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