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Grupo busca resgatar era da glória Jihadista

Atualização:

O Jemaah Islamyiah (ou Congregação Islâmica) foi criado com pretensões de instaurar um emirado islâmico no Sudeste Asiático. Malásia, Cingapura, Filipinas e sul da Tailândia, além da Indonésia, formariam a Medina dos novos tempos, de onde os jihadistas combateriam todo o mundo moderno. O grupo é considerado pelos EUA uma das mais perigosas filiais da Al-Qaeda por sua influência na Ásia. Combatentes, como Ibnu Ahmad, Kadir e Hidayat, inspiraram-se em Bin Laden, com quem estiveram pessoalmente. A Indonésia, sua base, é campo fértil para o recrutamento - com 240 milhões de habitantes, dos quais 9 em cada 10 seguem o Islã, é o maior país muçulmano do mundo. Os planos do grupo, no entanto, foram adiados pelos atentados de Bali. Com seus líderes presos e investigados pela CIA, o financiamento minguou. O grupo perdeu apoio interno, dos que discordavam da morte de muçulmanos entre as vítimas dos atentados. Desmoralizados e pobres, seus combatentes buscam voltar aos tempos em que eram os heróis da jihad no Afeganistão."Sinto muita falta do Afeganistão, muita", suspira Ibnu Ahmad, de uma linhagem de jihadistas da Indonésia. É filho, neto, sobrinho, irmão de combatentes islâmicos. Seu avô foi um dos fundadores do Darul Islam, milícia que lutou contra os colonizadores holandeses e da qual o JI descende; o pai participou da tentativa frustrada de assassinar o presidente Sukarno em 1956 e combateu o flerte dos comunistas na Indonésia com apoio indireto da CIA, nos mesmos moldes que a agência de inteligência americana faria depois no Afeganistão. Ibnu Ahmad passou oito anos internado em uma pesantren (escola corânica da Indonésia), tinha 21 anos quando chegou ao Al-Sadda, campo de treinamento para a jihad no Afeganistão. Lá conviveu com homens como Abdullah Yusuf Azzam, o "pai" da jihad global, e seu afilhado espiritual, Osama bin Laden; mulá Omar, o chefe caolho do Taleban, e Khalid Sheikh Mohammed, mentor do 11 de Setembro, a quem Ibnu Ahmad ciceroneou na Indonésia quando buscava fundos para os atentados. Pelo menos 292 integrantes do JI foram treinados entre 1985 e 1996 em campos como o Al-Sadda. De volta à Indonésia, Ibnu Ahmad treinou guerrilheiros e envolveu-se nos conflitos sectários contra cristãos. Foi preso em 2000, após um ataque ao embaixador das Filipinas, que deixou 2 mortos, e pouco antes dos ataques de Bali, flagrado com 35 mil cartuchos de munição. Ao sair da prisão, o amigo Ustadz Faisal Ishaq, dono da NaturAid, fabricante de cosméticos e complementos alimentares citados no Alcorão, o ajudou. Ao revender seus produtos, Ibnu Ahmad aproveita para radicalizar os clientes. "É uma ferramenta de pregação", diz, mostrando um frasco de água de Zam-Zam, extraída de uma fonte em Meca e considerada sagrada. "Eu devia ter lhe trazido o guia: como estabelecer a sharia em dez fases." "Ibnu Ahmad é um combatente, tem isso no sangue. É muito difícil tirá-lo dessa condição", diz Taufik Andrie, pesquisador do Institute for International Peace, de Jacarta, que trabalha com a desmobilização de jihadistas. Ibnu Ahmad não se convence: "A jihad é obrigação de todo muçulmano e existirá até o fim dos tempos, até o Armagedon." / A.C.

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