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Grupo de clérigos pede que eleições sejam anuladas

Declaração é revés para o governo e a autoridade de Khamenei

Por Michael Slackman , Nazila Fathi e CAIRO
Atualização:

Em um claro sinal de que o clero no Irã enfrenta uma grande divisão, o mais importante grupo de líderes religiosos do país qualificou de ilegítimos a eleição presidencial e o novo governo, num gesto de desafio ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. A declaração, feita pela Associação de Pesquisadores e Professores de Qum, é um revés significativo para o governo, em especial para a autoridade de Khamenei, cuja palavra é considerada final. O governo tentou retratar a oposição e seu candidato, Mir Hossein Mousavi, como criminosos e traidores, uma estratégia que se torna agora mais difícil. "Essa divisão no clero e o fato de ele tomar o partido do povo e se manter ao lado de Mousavi é a cisão mais importante dos últimos 30 anos", disse Abbas Milani, diretor do Programa de Estudos Iranianos da Universidade Stanford, nos EUA. Desde a eleição, a maior parte do clero da cidade sagrada de Qum - importante centro de poder político e religioso - permaneceu em silêncio, fazendo com que muitos se perguntassem quando, ou mesmo se, os principais líderes religiosos do Irã começariam a participar dos eventos considerados o maior desafio à liderança do país desde a Revolução Islâmica. Com a declaração, feita no sábado, a associação de clérigos - formada sob a liderança do fundador da revolução, o aiatolá Ruhollah Khomeini - colocou-se claramente do lado do movimento de reforma. Apesar de incluir reformistas, o grupo é visto como independente e não apoiou nenhum candidato na eleição. A decisão por si só não é capaz de alterar o resultado da votação e pode ser silenciada por pressão do Estado, já que alguns seminários de Qum dependem do financiamento do governo. No entanto, a declaração proporciona certos ganhos táticos a Mousavi e a outras figuras que denunciam a ilegitimidade das eleições. No documento, os clérigos pedem não apenas que a eleição seja anulada, mas também censuram os líderes por não estudarem a fundo as denúncias de fraudes e condenam o uso da força nos protestos. Em comunicado, o grupo pediu ainda que outros clérigos se juntem à luta contra a fraude na votação

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