Grupo de voluntários arrisca suas vidas para apoiar o Exército da Ucrânia

Dezenas de paramédicos e ativistas agem na linha de frente dos combates contra o avanço das tropas russas no Leste do país

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Por Andrew E. Kramer
Atualização:

PAVLOGRAD, UCRÂNIA - Ao mesmo tempo em que o Exército da Ucrânia se mobiliza para conter a invasão da Rússia, que teve início na quinta-feira 24, um grupo de voluntários e ativistas reúne doações de roupas quentes, equipamentos médicos, walkie-talkies e alimentos e saíram ao apoio dos militares mal financiados do país, como fazem há anos. 

Nos combates entre os exércitos de dois países, esse tipo de apoio de base aos militares pode não parecer muito relevante. Mas desempenhou um papel fundamental na incursão russa de 2014, que levou à anexação da Crimeia. E as dezenas de grupos de voluntários bem organizados têm hoje o potencial de resistir aos soldados russos.

Soldados russos em direção à Ucrânia; conflito deverá gerar choque nos preços de commodities Foto: Stringer/ EFE

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“Estávamos nos preparando para isso há anos”, disse Yuri Skribets, neurocirurgião que se voluntaria como paramédico no campo de batalha. Ele pertence aos Hospitalários do Batalhão Médico.

Em um armazém de tijolos convertido em sua sede, com um fogão a lenha gigante em chamas, os paramédicos voluntários passaram a quinta-feira empacotando mochilas e bolsas com suprimentos médicos de emergência, principalmente o que era necessário para estancar o sangramento: torniquetes, agente coagulante, bandagens.

A organização de médicos e paramédicos voluntários opera há anos na linha de frente da guerra no leste da Ucrânia, onde separatistas apoiados pela Rússia combatem as forças ucranianas.

Os voluntários costumam levar os militares feridos para um hospital civil. Com uma mistura de raiva e determinação, esses voluntários se prepararam para uma tarefa possivelmente muito maior agora. “O mundo inteiro é fraco”, disse Skribets. “Ninguém realmente resistiu a Putin, e este é o resultado.”

Em uma parede estão pendurados retratos de oito médicos voluntários do grupo mortos em combates no leste - confrontos que começaram em 2014, mas sempre ficaram restritos a uma fatia da Ucrânia, em contraste com o ataque muito mais amplo iniciado pela Rússia na quinta-feira.

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Velas de votos religiosos em uma prateleira abaixo dos retratos, e alguns itens servem como lembrança aos voluntários: remendos do uniforme, uma pequena coleção de estilhaços irregulares, fotografias.

Formalização do trabalho

O governo do presidente Volodmir Zelenski, no ano passado, tentou formalizar o trabalho dessas organizações voluntárias, que vão desde grupos não-governamentais pacíficos a paramilitares armados e politicamente ativos, em um grupo nacional sob comando militar, chamado Forças de Defesa Territoriais.

Essas Forças de Defesa, juntamente com grupos independentes, são vistas como o cerne de uma possível insurgência contra a ocupação russa. “Muitas pessoas comuns estão prontas para resistir se as autoridades em Kiev desistirem”, disse Oleksandr Isenko, paramédico voluntário.

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Anna Fedianovich, vice-diretora do grupo, disse que todos os suprimentos médicos são doados, e médicos e enfermeiros oferecem seu tempo. “Acho que nosso Exército não permitirá uma ocupação”, afirmou, sem parecer muito esperançosa. Citando uma declaração que o presidente Joe Biden fez antes do ataque russo, ela disse: “A Rússia tem uma lista de voluntários e patriotas para prender.”

Anna teme que membros do grupo sejam rapidamente traídos por vizinhos em uma cidade onde o sentimento pró-Rússia é comum, caso o Exército russo apareça. “Todo mundo tem um vizinho que está pronto para traí-los”, disse ela. “Não sei como poderia permanecer aqui e não ser presa, talvez torturada. É difícil imaginar ficar aqui.”

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