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Grupo radical sunita anuncia criação de califado islâmico no Iraque e Síria

O grupo radical sunita Estado Islâmico no Iraque no Levante (Isil, na sigla em inglês), que tomou o controle de amplas áreas na Síria e no Iraque, declarou ontem a instalação de um califado islâmico nessas áreas. Até ontem, nenhum governo havia se manifestado sobre a declaração do Isil. O anúncio foi feito por um porta-voz do grupo em meio a uma operação das forças iraquianas para tentar retomar o controle de Tikrit, cidade natal do ditador Saddam Hussein.

Por BAGDÁ
Atualização:

Em um documento intitulado "Esta é a promessa de Alá", e divulgado nas redes sociais, o grupo informou que seus líderes "resolveram anunciar o estabelecimento do califado islâmico e a designação de um califa para todos os muçulmanos, que será o chefe do Isil, Ibrahim ibn Awad, mais conhecido como Abu Bakr al Bagdadi.

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O Isil também anunciou que está eliminando a parte "no Iraque e no Levante" do nome do grupo e passará a ser denominado somente como "Estado Islâmico".

O califado é o sistema político que governou a comunidade muçulmana desde o nascimento do Islã com o Profeta Maomé e sobreviveu, em diferentes formas e lugares, até o fim do califado otomano, que Mustafá Kemal Ataturk aboliu no início do século 20 para criar a nova Turquia. O califa é a máxima autoridade religiosa e política do califado, cuja norma política é a sharia (a lei islâmica).

"Esclarecemos que "com esta declaração de califado, é imperativo que todos os muçulmanos jurem lealdade ao califa Ibrahim e o apoiem", afirmou a organização jihadista, considerada uma cisão da Al-Qaeda.

Segundo a declaração, "a legalidade de todos os emirados, grupos, Estados e organizações fica anulada pela expansão da autoridade do califa e a chegada das tropas a suas áreas".

Charles Lister, do Brookings Doha Center, viu um significado considerável no anúncio. "Apesar de qualquer julgamento que possa ser feito em termos de legitimidades, o anúncio da restauração do califado é o mais significativo evento do jihadismo internacional desde o 11 de Setembro".

"O impacto desse anúncio será global, já que os afiliados da Al-Qaeda e os grupos jihadistas independentes precisam escolher entre apoiar e aderir ao Estado Islâmico ou se opor a ele", disse Lister.

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Combatentes do grupo tomaram a cidade de Mossul no mês passado e têm avançado rumo a Bagdá. Na Síria, eles capturaram amplas áreas no norte e no leste, ao longo da fronteira com o Iraque.

O Exército iraquiano enviou ontem tanques e blindados a Tikrit, no segundo dia da ofensiva para tentar retomar o controle da cidade capturada pelo Isil, cujos membros conseguiram derrubar um helicóptero militar. O Exército iraquiano conta com a cooperação dos EUA, que têm informado sobre os alvos a serem bombardeados.

O porta-voz do Exército, Qassim Atta, disse ontem que as forças de segurança tinham matado 142 "terroristas" em 24 horas, entre eles 70 em Tikrit, e haviam retomado o controle da universidade da cidade. O governo iraquiano também anunciou que especialistas da Rússia chegaram ao país para ajudar o Exército com 12 novos caças russos que serão usados na ofensiva contra os extremistas sunitas. Pelo menos 9 civis, de uma mesma família, foram mortos nos bombardeios do Exército iraquiano na Província de Salahuddin.

Crucificados.

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Oito combatentes rebeldes foram crucificados pelo Isil na província síria de Alepo por serem considerados moderados, informou o Observatório Sírios para os Direitos Humanos, que monitora o grupo na Síria.

Em Bagdá, ameaçada pelo avanço rebelde, líderes sunitas, xiitas e curdos se reuniram para tentar chegar a um acordo sobre a formação de um novo gabinete antes de o Parlamento, eleito em abril, se reunir na quinta-feira. Os políticos estão sob intensa pressão para acelerar o processo de escolha de um novo governo para enfrentar a crise. O primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki vem sendo acusado de incitar a revolta da minoria sunita do país ao não adotar um governo de união e corre o risco de perder o poder.

Curdistão.

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Citando o caos no Iraque, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, manifestou ontem seu apoio ao estabelecimento de um Curdistão independente como parte de uma ampla aliança entre Israel e as forças moderadas na região. Em um discurso em Tel-Aviv, Netanyahu disse que tanto o aumento de grupos extremistas sunitas apoiados pela Al-Qaeda quanto de forças xiitas apoiadas pelo Irã criaram a oportunidade para se obter uma cooperação regional.

Ele disse que a Jordânia, que está ameaçada pelos conflitos no Iraque e na Síria, e os curdos, que controlam a região autônoma rica em petróleo, precisam de apoio. Para Netanyahu, os curdos "são uma nação de combatentes e provaram politicamente que merecem a independência". Há muito tempo os curdos desejam a independência, mas admitem que sua aspiração não é factível neste momento. A comunidade internacional, os EUA são contra uma separação no Iraque.

/ REUTERS, AP e AFP

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