Grupos pró-Al-Qaeda desafiam Hamas na Faixa de Gaza

Radicais acusam Hamas de 'laico e herege', exigem teocracia islâmica na Faixa de Gaza e se opõem a cessar-fogo com Israel.

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Por Guila Flint
Atualização:

Os três dias de enfrentamento que deixaram na semana passada pelo menos 24 mortos e opuseram o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e uma milícia radical islâmica representam um auge na tensão entre o partido palestino e facções identificadas com a Al-Qaeda na região. Para os grupos pró-Al-Qaeda, autodenominados Jiljelat (Trovão, em tradução livre), o Hamas é "laico", ou pelo menos "não é islâmico suficiente", como afirmou o líder da milícia islâmica em um discurso que deu origem aos confrontos, na sexta-feira. Na sexta-feira, em discurso na cidade de Rafah, o xeque Abdel Latif Moussa, líder do Jund Ansar Allah (Exército de apoio a Allah, em tradução livre) decretou a fundação de um "emirado islâmico" na Faixa de Gaza, acrescentando que "seu líder" é Osama Bin Laden. Policiais do Hamas cercaram a mesquita e entraram em choque com homens armados da facção. Em três dias de confronto, pelo menos 24 pessoas morreram, entre eles Moussa e de um dos principais comandantes do Hamas, Mohamed Shimali, chefe das forças de segurança do grupo em Rafah. Outras 150 ficaram feridas. ''Hereges'' Desde então, militantes da facção pedem na internet aos lideres da Al-Qaeda, Osama Bin Laden e Ayman Al-Zawahiri, que "façam tremer as cadeiras dos laicos do Hamas" e exigem "as cabeças dos hereges, principalmente de Haniya" (Ismail Haniya, lider do Hamas na Faixa de Gaza). Os grupos ligados à Al-Qaeda se opõem ao cessar-fogo decretado pelo Hamas, que nos últimos seis meses interrompeu os ataques contra Israel a partir da Faixa de Gaza, e apoiam a implementação imediata das leis da Sharia (leis islâmicas). O primeiro sinal de existência de facções ligadas à Al-Qaeda na Faixa de Gaza ocorreu em junho de 2006, quando o grupo Jeish El Islam (Exército do Islã) esteve envolvido na captura do soldado israelense Gilad Shalit. Em 2007 o mesmo grupo também esteve envolvido no sequestro do jornalista da BBC Alan Johnston. Se no ano passado o Hamas negava a existência de facções pró-Al Qaeda na Faixa de Gaza, agora o movimento exige que membros das facções entreguem imediatamente suas armas às forças de segurança. O Hamas expulsou o partido laico Fatah da Faixa de Gaza em junho de 2007 e tomou à força o controle da região, desafiando a Autoridade Palestina, chefiada pelo presidente Mahmoud Abbas, que tambem é o lider do Fatah. De acordo com o Fatah, desde que tomou o poder na Faixa de Gaza, o Hamas vem exercendo uma "coerção religiosa" no sentido de transformar a sociedade na região em uma teocracia. O Hamas emitiu decretos obrigando as meninas a usarem o véu nas escolas e recentemente até obrigou advogadas a usarem o véu nos tribunais. Extremismo Jornais do Oriente Médio manifestaram sua preocupação com a escalada de radicalismo na região. Para Tarek El Hamid, do jornal árabe Ashark El Awast, "extremismo gera extremismo". "A linguagem que a facção Jund Ansar Allah utiliza contra o Hamas é semelhante à linguagem que o Hamas utiliza contra o Fatah", afirmou o jornalista. O editorial do jornal egípcio oficial El Aharam, afirmou que "os confrontos na Faixa de Gaza demonstram o caos que os palestinos estão sofrendo desde que o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza, que levará a mais tragédias para o povo palestino e impedirá qualquer tentativa de estabilizar a região". De acordo com o analista militar do jornal israelense Yediot Ahronot, Ron Ben Ishai, "o Hamas demonstrou, durante o fim da semana, que está decidido a consolidar seu poder e mantê-lo a longo prazo". "O confronto com os simpatizantes do Jihad Global em Rafah demonstrou que o Hamas não hesitará em reprimir com mão-de-ferro qualquer desafio ideológico ou armado a seu governo, seja por parte do laico Fatah ou da corrente fundamentalista de Osama Bin Laden", afirmou o analista. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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