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Grupos pró e contra Zelaya inflam números de protestos

Divididos, hondurenhos disputam nas ruas legitimidade e apoio ao golpe

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Na atual crise política, a sociedade hondurenha divide-se em três grupos, que não seguem exatamente a linha "oligarcas contra o povo". Um deles é aliado do presidente deposto, Manuel Zelaya, reconhecido como líder legítimo por quase toda a comunidade internacional. Outro defende Roberto Micheletti, que governa de facto o país. Por último, uma parcela expressiva dos hondurenhos não toma partido nenhum. Com 7,7 milhões de habitantes, as manifestações em Honduras reúnem no máximo 10 mil pessoas, independentemente de serem a favor ou contra Zelaya. Os organizadores sempre exageram o tamanho das passeatas e acusam o outro lado de pagar pela participação popular. No domingo, o ato no aeroporto para aguardar o presidente deposto contou com alguns milhares de pessoas, mas nem de longe teve os 400 mil que anunciou a Telesur, TV ligada ao venezuelano Hugo Chávez. O outro lado também exagera e promete uma "marcha de um milhão" para hoje. Os participantes das manifestações pró-Zelaya são integrantes de sindicatos, movimentos estudantis, professores e simpatizantes de diferentes classes sociais. Durante os protestos, entoam gritos puxados por um carro de som e, antes de anoitecer, vão embora para suas casas. Nos protestos contra o governo, um pouco mais organizados, os manifestantes, que podem ser ricos ou pobres, vestem-se com camisetas brancas ou com as da seleção nacional de futebol. Fora das manifestações, as pessoas tentam não se envolver tanto no conflito. Aos poucos, elas se acostumam com o cotidiano do toque de recolher. "O isolamento internacional ainda provoca poucos reflexos", afirmou ao Estado Guillermo Matamorros, da Associação dos Economistas Hondurenhos. "Os acordos comerciais com os EUA, nosso principal parceiro, serão cumpridos." No poder, Micheletti tem apoio da Suprema Corte, das Forças Armadas, do Congresso, da Igreja Católica, da Evangélica, de empresários e da maior parte da imprensa. Até agora, esse grupo tem se mostrado coeso em não aceitar o retorno de Zelaya. "Por enquanto, essa união está sólida", disse o analista político Graco Pérez. Um deputado hondurenho confirmou ao Estado que não há cisões entre os parlamentares. Também não há notícias de deserções nas Forças Armadas. No domingo, Zelaya pedia do avião - ele falava a jornalistas da Telesur e a entrevista era reproduzida por alto-falantes em terra - para que os soldados entregassem as armas e respeitassem suas ordens. Contudo, nenhum militar se manifestou. Os parlamentares, incluindo os integrantes do Partido Liberal, ao qual pertencia Zelaya, permanecem leais a Micheletti, que faz parte da mesma legenda. O Partido Nacional, outra força política em Honduras, tampouco se solidariza com a posição do presidente. A imprensa pró-Zelaya conta apenas com o apoio de algumas rádios. As TVs estão com Micheletti, assim como a maior parte dos jornais. As notícias, dependendo da linha editorial, adotam um enfoque diferente. Elas divergem principalmente sobre o apoio a Zelaya. Os aliados do presidente deposto falam em mais de 70%. Os defensores do governo de facto dizem que o apoio não passa de 30%. Não há, porém, pesquisas confiáveis em Honduras.

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