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Guerra ameaça negócios franceses no Iraque

Conforme dirigentes de petrolíferas dos Estados Unidos e Inglaterra, a ferrenha oposição que a França faz à guerra teria por motivação garantir os negócios da TotalFinaElf no Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

A presença do grupo petrolífero TotalFinaElf no Iraque constitui um dos argumentos utilizados pelos dirigentes das grandes empresas do setor nos Estados Unidos e Inglaterra para denunciar os interesses franceses nesse país, que estariam ameaçados em caso de deflagração de uma guerra. Interesses econômicos dessa natureza seriam, segundo eles, uma das principais razões da ferrenha oposição francesa a uma ofensiva anglo-americana no Iraque. Enquanto uns procuram controlar essas reservas , outros buscam preservar seus interesses nesse país. O grupo francês encontra-se numa situação privilegiada no Iraque, mas que poderá durar pouco diante do "olho grande" das chamadas "majors" norte americanas, também interessadas em controlar as formidáveis jazidas desse país, estimadas em 112 bilhões de barris, a segunda reserva mundial , após a Arábia Saudita. O exemplo que está sendo mais citado é o formidável complexo petrolífero de Majnoon, hoje controlado pela francesa TotalFinaElf, mas descoberto e mapeado por uma filial da Petrobrás, a Braspetro, em 1975. Lá estão concentradas reservas entre 20 e 30 bilhões de barris, mas cujo contrato de risco foi rompido unilateralmente por Saddam Hussein há 12 anos atrás. O presidente do grupo francês, Thierry Desmaret, deverá anunciar na próxima quinta feira uma rentabilidade recorde de sua empresa, da ordem de 6,5 bilhões de euros, em parte obtida com sua presença na região, apesar do embargo que até agora limita a produção iraquiana a 2,5 milhões de barris dia. O grupo petrolífero francês é responsável, atualmente, pela modernização e exploração de Majnoon. A Total já assinou um "pré-contrato" para explorar as reservas de Majnoon descobertas pela Petrobrás, junto a fronteira do Irã, um dos mais interessantes campos petrolíferos desse país que representa, por exemplo, trinta anos de consumo de um país como a França e quarenta anos dos EUA. Esse contrato da TotalFinaElf com o Iraque é extremamente favorável à empresa francesa e, sem a preservação do regime de Saddam Hussein, dificilmente suas condições atuais poderiam ser mantidas. O conselheiro do Pentágono, Richard Perle, confirmou na semana passada ,em Washington, a existência de interesses comerciais dessa natureza em jogo. Através de Majnoon, a Total poderá aumentar, a médio prazo, um quarto de sua produção petrolífera, situando-se na mesma posição das grandes como Exxon-Mobil, BP e Shell. Perder sua posição no Iraque seria um desastre para o grupo Total, depois da investida de sua principal concorrente, a BP, na Rússia, adquirindo 50% da terceira companhia russa. Por isso, hoje os analistas indagam: quem vai tirar maior proveito do petróleo iraquiano quando Saddam Hussein for afastado do poder? Para a revista Pétrostratégies, em caso de guerra as grandes companhias norte-americanas vão ficar com a parte do leão, deixando alguns lotes de consolação à Rússia, uma boa parte aos britânicos e, se possível, nada às demais empresas européias, especialmente francesas. Frederic Lasserre, especialista de petróleo da Societé Générale, é mais prudente e lembra que os países produtores têm interesse em trabalhar com um máximo de companhias, mas sem precisar em que escala ou porcentagem se fará a divisão do espólio. Uma coisa é certa: não será a brasileira Petrobrás, pois na ruptura do contrato Saddam Hussein só concedeu algumas migalhas, uma indenização no valor de 100 milhões de dólares, além de uma compensação comercial na forma de prestação de serviços nesse complexo e em quinze outros campos.

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