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Guerra no Iêmen leva pais a arranjar casamentos para meninas de 3 anos, diz ONG

Desde o início dos conflitos, a prática de casar menores de idade aumentou 60%; segundo ativista, isso se dá em razão da desvalorização da moeda, que transformou em ‘inexistente’ a capacidade econômica dos iemenitas

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Por Redação
Atualização:

MADRI - A guerra no Iêmen levou alguns pais a arranjar casamentos para meninas de até 3 anos, embora o habitual seja aos 9, disse nesta terça-feira, 5, em Madri a ativista Dina El-Mamoun, da ONG Oxfam Iêmen.

O Iêmen tem hoje mais de 3,3 milhões de deslocados internos e 24 milhões de pessoas que precisam de ajuda Foto: Yahya Arhab / EPA / EFE

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Os casamentos de menores de idade, que já existiam no país, aumentaram 60% desde o início da guerra, explicou ela em entrevista coletiva, na qual destacou as dificuldades de atingir um número em um país onde é complexo chegar a todas as regiões, seja pelo isolamento ou pelo conflito armado.

"Estamos vendo casos de meninas de até 3 anos, não muitos, mas existem, embora o mais comum seja fazer isso aos 9. Em muitas ocasiões, as meninas ficam nas casas dos pais até a primeira menstruação, mas nem sempre é assim", explicou Dina sobre o país que vive atualmente a pior crise humanitária do mundo.

A redução dos casamentos de menores de idade é um dos temas nos quais a Oxfam trabalha no Iêmen. De acordo com Dina, a situação piorou muito nos últimos meses em razão da desvalorização da moeda, que transformou em "inexistente" a capacidade econômica dos iemenitas.

Essa é uma das causas do aumento dos casamentos de menores, porque embora nos últimos anos tenha crescido a conscientização contra esta prática tradicional, a guerra mudou tudo. "Não são casos isolados, cada vez há mais", acrescentou a ativista, que concedeu a entrevista ao lado de Dalia Qassim, fundadora da Hodaida Girls Foundation. As duas participaram da recente Conferência de Doadores de Genebra e fizeram uma viagem pela Europa para alertar sobre a situação do Iêmen e arrecadar mais fundos para o país.

De acordo com Dalia, a situação em Hodaida, cidade portuária atualmente sob bloqueio, já era ruim, mas desde 2015, com a guerra, ficou muito pior, com problemas de eletricidade, água potável e abastecimento de medicamentos, o que propaga doenças.

Depois de explicar o panorama desolador do país pela guerra, que no dia 25 completa quatro anos, Dalia pediu que os políticos visitem o Iêmen para ver de perto a situação real. "Podemos falar de Hodaida, mas vê-la é muito diferente. Pedimos que os políticos venham nos visitar e vejam o que realmente acontece", disse a jovem ativista, cujo principal pedido à comunidade internacional é que "a guerra acabe".

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Ela também pediu que as mulheres sejam incluídas nos processos de paz, assim como os jovens e membros da sociedade civil. "Antes da guerra, a mulher estava começando a conquistar direitos, lutava por causas feministas e das crianças e agora toda essa luta sumiu, mas a sua voz tem de ser ouvida", disse.

O Iêmen tem hoje mais de 3,3 milhões de deslocados internos e 24 milhões de pessoas que precisam de ajuda, o que corresponde a quase 80% da população, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). / EFE

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