GENEBRA - A Itália vive um fluxo "sem precedentes" de imigrantes que cruzam o mar Mediterrâneo fugindo de guerras e fome. Números divulgados nesta terça-feira, 26, pela ONU mostram que apenas neste ano 102 mil estrangeiros desembarcaram no sul da Itália. O número é quase o dobro de 2011, durante a Primavera Árabe, quando Roma anunciou a chegada de estrangeiros de "proporção bíblica", 60 mil pessoas.
A guerra na Síria, o conflito no Iraque, a situação delicada na Líbia, a impossibilidade de usar a Ucrânia como ponto de passagem para muitos imigrantes, a crise em Gaza, a repercussão da guerra no Mali, Eritreia e outros pontos de estabilidade estariam se refletindo agora nas margens do Mediterrâneo.
A quantidade de imigrantes que chegaram na Itália nos sete meses de 2014 é quase três vezes superior ao número de 2013, quando 42 mil pessoas cruzaram o mar. Hoje, pelo menos 25,2 mil imigrantes da Eritreia e 16,2 mil sírios desembarcaram na Itália.
A crise na Líbia também abriu novas rotas de imigração, com grupos criminosos organizando a travessia, muitas vezes em barcos que não têm combustível nem mesmo para chegar ao outro lado.
"A violência e uma vida difícil nos países de origem estão fazendo com que as pessoas fujam da guerra, de perseguição e de regimes totalitários", declarou Simona Moscarelli, representante da Organização Internacional de Migrações em Roma. Segundo ela, nos últimos dias, os portos italianos receberam 14 yazidis vindos do Iraque e fugindo de extremistas islâmicos, além de 180 pessoas de Gaza.
Mortes. A quantidade recorde de imigrantes também fez o número de mortos bater novo patamar. Em sete meses, foram pelo menos 1,5 mil mortes. Em todo o ano de 2013, foram "apenas" 700. "Uma vez mais, esses eventos trágicos mostram que algo precisa ser feito para solucionar o problema da imigração irregular", afirmou o diretor da Organização Internacional de Migração, William Lacy Swing.
Na última semana, 230 estrangeiros morreram tentando chegar ao Sul da Itália. Muitos deles vinham da Líbia.
A OIM não poupa críticas aos governos europeus, que optaram por militarizar o combate contra a imigração. "A obrigação de salvar vidas supera qualquer outra consideração", disse Swing. "Mas resgatar pessoas no mar não é a solução. Alternativas precisam ser encontradas, como garantir uma entrada legal e segura para a Europa, dar possibilidades de relocalização de comunidades, reunificar famílias e dar chances de um retorno voluntário àqueles que não precisam de proteção", insistiu.
A entidade também pediu que se combata a rede de traficantes e não os imigrantes. Na Itália, centenas de imigrantes estão em "centros de acolhimento", verdadeiras prisões para estrangeiros.
O governo italiano afirma que está fazendo sua parte em colaborar para salvar vidas. "Apenas em uma semana, nossos helicópteros e navios resgataram e ajudaram a salvar 4 mil vidas", declarou o Ministério do Interior.