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Guerrilheira brasileira ajudou refém suíço durante a ditadura

Sequestradora passou mensagens de diplomata suíço a parentes durante tensa negociação entre Berna e o regime militar brasileiro

Por Jamil Chade e BERNA
Atualização:

BERNA - Em 7 de dezembro de 1970, o então embaixador da Suíça, Giovanni Bucher, foi sequestrado por grupos de oposição armada no Rio de Janeiro, liderados por Carlos Lamarca. Ao ser sequestrado, tentou argumentar que não era americano.

Giovanni Bucher dá entrevista após permanecer 40 dias sequestrado Foto: Arquivo / Estadão

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A negociação para seu resgate levou mais de um mês e o diplomata foi liberado após o regime aceitar transferir 70 presos políticos para o Chile. Meses antes do sequestro, o diplomata alertara seu governo sobre a tensão entre embaixadores em razão da onda de sequestros. 

No cativeiro, Bucher acabaria ficando amigo de uma sequestradora, cujo nome não foi revelado. Segundo disse o diplomata em um telegrama, ela era contra seu sequestro e ajudou a filtrar mensagens do diplomata para parentes e amigos. Ela ainda permitia que, no mês que Bucher esteve detido, mensagens fossem enviadas a ele. A sequestradora havia exigido a Bucher que jamais contasse à polícia ou às autoridades que o grupo contava com uma mulher.

Nos dias que se seguiram ao seu sequestro, telegramas do governo suíço revelavam encontros com a cúpula do regime militar brasileiro. Num deles, de 13 de dezembro de 1970, o Itamaraty explicou ao governo suíço que estava disposto a negociar com os sequestradores e atender suas reivindicações para garantir a liberação do embaixador. Mas não queria ser “humilhado”, com um pedido de soltura de um número considerado exagerado de prisioneiros políticos. 

A negociação acabou se prolongando, criando o temor de que o diplomata fosse executado. Telegramas revelam que empresários suíços chegaram a sugerir a criação de um fundo para pagar o resgate do diplomata. 

Os documentos ainda revelam que Bucher, em seus anos no Brasil, manteve atitude de respeito com alguns dos militares. Humberto Castelo Branco, o primeiro presidente do regime militar, seria de uma “integridade absoluta” e havia assumido “com seriedade” a tarefa de “levar o País à normalidade constitucional”. Bucher morreu em 1992, na Itália. 

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