PUBLICIDADE

Guinada britânica

A ascensão dos liberais rompe o sistema bipartidário na Grã-Bretanha, mas a vitória do 'terceiro partido' é incerta

Por Stephen Castle
Atualização:

THE INTERNATIONAL HERALD TRIBUNEO salto dos liberais britânicos nas pesquisas de opinião, depois do primeiro debate televisionado da história do país, há uma semana, levou o jornal The Sunday Times a comparar a popularidade do líder do partido, Nick Clegg, à do premiê Winston Churchill. A história dos terceiros partidos na Grã-Bretanha, porém, está repleta de desilusões. Com mais de duas semanas de campanha ainda pela frente, a escalada liberal nas pesquisas - que colocam o partido no mesmo patamar dos trabalhistas e dos conservadores - pode ruir tão rapidamente quanto subiu.Trinta anos depois de uma geração prometer romper a política bipartidária, o repentino crescimento do centro poderá determinar quem governará a Grã-Bretanha após as eleições do dia 6. "Estamos em um território nunca antes desbravado", disse John Curtice, analista político da Universidade Strathclyde, de Glasgow. "Nunca tivemos esses resultados numa campanha eleitoral".O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, líder do Partido Trabalhista, de centro-esquerda, reconheceu no domingo que perdeu o debate no que diz respeito à forma e ao estilo. Embora afirmasse à BBC que ganhou em "substância", ele disse que, agora, o resultado da eleição "está em aberto".Brown criticou a política dos liberais, mas os conservadores, de centro-direita, que entraram na campanha como favoritos, reagiram de modo bem mais agressivo. Seu líder, David Cameron, de 43 anos, posicionou-se como o candidato da mudança, mas encontrou Clegg, também com 43, que roubou a cena no primeiro debate. Há mais dois debates marcados. Explorando o desencanto popular com a política depois de um escândalo de gastos de parlamentares, Clegg apresentou-se habilmente como um azarão. Isso pareceu despertar os eleitores, que não estão dispostos a eleger novamente Brown, mas que também não estão convencidos em votar em Cameron.O líder dos conservadores tem motivos para se preocupar com o crescimento dos liberais. Um renascimento moderado, provavelmente, privaria o partido de vitórias importantes no sul da Inglaterra, vitais para a eleição. Nesse caso, Brown poderia continuar no posto, o que explica por que várias personalidades trabalhistas estão se esforçando para realizar um contraponto à performance de Clegg a, e não à de Cameron.Centristas. Trabalhistas e conservadores dominaram a vida política britânica na maior parte do século passado. Alternaram-se no poder por um sistema que encoraja a formação de uma clara maioria e torna uma coalizão quase impossível em condições normais. O antigo Partido Liberal, precursor do atual Partido Liberal Democrata, participou brevemente de uma aliança com um governo trabalhista minoritário em 1974. Em 1981, um novo partido centrista formou uma aliança com os liberais, que pareciam ter uma chance de conseguir o poder de fato.Desde que essa ressurreição foi esmagada, os liberais tiveram uma lenta, mas constante recuperação. Eles entraram na atual campanha eleitoral com 63 cadeiras no Parlamento. No entanto, a guinada foi além de suas expectativas. "O debate na TV foi o momento em que Cameron acordou para a realidade de que existem três partidos políticos. E pareceu um pouco chocado com isso", disse Olly Grendor, ex-diretora de comunicação dos liberais. "Aparentemente, ele tinha um plano de jogo para lidar com Brown, mas não com Clegg."O líder liberal está acostumado a ser subestimado. Durante os embates semanais no Parlamento, em que parlamentares têm o direito de fazer perguntas, Clegg é relegado a um status secundário. Ele fala depois do confronto de gladiadores entre o primeiro-ministro e o líder da oposição e, em geral, precisa refutar os constantes apartes dos representantes de ambos os principais partidos.Entretanto, no debate, Clegg mostrou que está no mesmo nível dos outros candidatos a premiê, algo que nenhum de seus antecessores conseguiu.É REPÓRTER E ANALISTA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.