Há uma boa chance de instauração da democracia em Mianmar caso a comunidade internacional mantenha a pressão sobre o regime militar, disse na quarta-feira o enviado especial das Nações Unidas para questões de direitos humanos no país, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. A reação mundial contra a repressão dos generais aos protestos pró-democracia de setembro "definitivamente obtiveram alguma coisa", disse Pinheiro a jornalistas, alertando, porém, para os perigos de a pressão internacional se esvair. "Seria perdida uma boa oportunidade de transição", afirmou ele em entrevista coletiva por telefone, após sua primeira viagem em quatro anos à antiga Birmânia. Pinheiro disse ter ficado animado pelo grande número de jovens que participaram pacificamente dos protestos de setembro. "Agora o único caminho é a comunidade internacional falar menos e mostrar mais ação coordenada. Não vejo outra possibilidade por enquanto", acrescentou. Segundo ele, serão especialmente importantes as manifestações da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e da China. Falando de Rhode Island (EUA), onde leciona na universidade Brown, Pinheiro disse ser importante que os países tentem aproximar suas posições. Ele confirmou que o governo de Mianmar lhe revelou que 15 pessoas, inclusive um fotógrafo japonês, morreram em Yangon durante a repressão às manifestações, iniciadas por monges budistas. Disse, porém, que não teve como verificar a informação. Pinheiro pôde visitar cinco presos políticos em Yangon, mas não deu detalhes. O representante da ONU apresenta no mês que vem um relatório aprofundado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. O brasileiro também não quis dizer se havia sinais de tortura contra os presos. "Entretanto, temo que alguns dos presos estejam sendo interrogados em condições preocupantes."