Para sinólogo, Xi Jinping e Trump são líderes nacionalistas que respondem a pressões protecionistas internas
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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:
Com líderes nacionalistas na China e nos EUA, a relação entre as duas maiores economias do mundo entrou no período de maior incerteza dos últimos 40 anos. Há o risco de uma guerra comercial e de um conflito militar caso Donald Trump abandone o princípio de “uma só China”, avalia David Lampton, professor da Universidade Johns Hopkins e um dos mais respeitados estudiosos do país asiático e sua interação com Washington. A seguir, a entrevista.
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O que sr. espera da relação entre EUA e China sob Trump? Estudo a relação EUA-China há mais de 40 anos e é o momento mais incerto que já vi. Temos líderes na China e nos EUA que gostariam de ter relações produtivas, mas são muito assertivos em promover os interesses de seus países, mesmo que isso signifique conflito.
Tanto Xi Jinping quanto Donald Trump são nacionalistas? Está se tornando quase um clichê dizer que o populismo e o nacionalismo estão se espalhando pelo mundo. Xi é a versão chinesa desse fenômeno, enquanto Trump é sua manifestação nos EUA. Se os dois países tiverem algo que se assemelhe a uma guerra comercial, isso terá consequências nefastas para a economia mundial. E ambos os lados têm pressões protecionistas às quais seus líderes estão respondendo.
Trump questionou um dos pilares da relação bilateral, que é o princípio de ‘uma China’. Qual o impacto disso? Qualquer um que questione a política de ‘uma China’ deve estar preparado para uma resposta forte. Se a política de ‘uma China’ for rejeitada pelos EUA, teremos elevado grau de fricção e potencial conflito. Conflito militar? Sim. Se olharmos para 1995 e 1996, na última vez que um líder de Taiwan perseguiu uma política mais orientada à independência, Pequim disparou mísseis ao norte e ao sul da ilha e os EUA responderam com o envio de dois porta-aviões. A consequência foi a tremenda expansão dos gastos militares da China, para que o país nunca mais tivesse de recuar diante dos EUA em relação a Taiwan. Mas os chineses têm várias maneiras de pressionar Taiwan antes de usar a força. Durante a campanha, Trump atacou a China de maneira sistemática, dizendo que o país adota práticas desleais e explora os EUA. Ele estava certo? Trump entendeu as frustrações que muitos americanos têm em relação à China. Eles querem mais reciprocidade e equidade. Empresas chinesas podem investir nos EUA e comprar empresas americanas, mas há setores inteiros da economia chinesa fechados para investimentos americanos. A China tem milhares de jornalistas aqui, com direito de fazer transmissões para dentro e fora dos Estados Unidos, mas repórteres dos três principais jornais americanos enfrentam dificuldades para entrar na China. Trump explorou isso de maneira correta. A questão é o que fazer. Impor tarifas de 45% seria uma catástrofe para os EUA, a China e o mundo.
Veja fotos da posse de Donald Trump e de protestos nos EUA
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A poucos quilômetros do Capitólio, onde Donald Trump será empossado como presidente dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (20), americanos protestam. ... Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSONMais
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O carro do presidente chega escoltado ao Capitólio. Foto: AP Photo/Cliff Owen
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Em Washington, cartaz pede a saída de Trump. Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Acompanhando o ex-presidente, seu marido Bill Clinton, Hilarry foi à posse do seu opositor nas eleições. Em sua página no Twitter, mais cedo, ela diss... Foto: Mais
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Uma mulher carrega um cartaz com palavras de Martin Luther King Jr., que diz: "Ódio não acaba com ódio, apenas amor". Foto: AFP PHOTO / Jewel SAMAD
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O presidente Donald Trump e sua esposa, Melania, na saída da chamada igreja dos presidentes, aSt. John's Episcopal Church. Foto: Micholas Kamm/AFP Photo
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Manifestantes protestam contra a posse de Trump, próximo à cordão de segurança. Um cartaz diz, em espanhol: "Eu também sou América". Foto: Jose Luis Magana/AP Photo
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Antes da posse, o casal Obama recebe Melania e Donald Trump na Casa Branca. A futura primeira-dama, Malania, deu Michelle com um presente, com a mesma... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
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Protestante entram em confronto com a polícia, próximo ao cordção de segurança. Foto: AP Photo/Jose Luis Magana
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Convidados de honra, como ex-presidentes e ex-primeiras-dama, se acomodam em frente ao Capitólio para a cerimônia. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Pessoas continuam chegando para a posse de Trump Foto: AFP PHOTO
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Trump entra na suacerimônia de posse como o 45º presidente americano. Foto: Doug Mills/The New York Times
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Militante LGBT protesta contra posse de Trump, em Washington. Foto: Andre Chung/The Washington Post
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Filhos de Trump, da esquerda para a direita, Tiffany, Donald Jr, Ivanka, a esposa deDonald Jr, Vanessa, e o esposo de Ivanka, Jared Kushner, na cerimô... Foto: AFP PHOTO / Timothy A. CLARYMais
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Depois de declarações polêmicas de Trump sobe o meio ambiente, manifestantes protestam pedindo resistência a Trump e justiça ao clima. Foto: AFP PHOTO / Jewel SAMAD
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Barack Obama cumprimenta Donald Trump no começo da cerimônia de posse. Foto: EFE/JIM LO SCALZO
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Confusão entre manifestantes e polícia wm Washington. Foto: REUTERS/Adrees Latif
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Milhares assistem a posse de Trump no Capitólio, em Washington. Foto:
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Uma mulher presta primeiros socorros a um protestante, que foi atingido por spray de pimenta, em confusão com a polícia. Foto: REUTERS/Bryan Woolston
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Vice-presidente eleito, Mike Pence, é abraçado pelo presidente eleito, Donald Trump. Foto:
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Manifestante, fantasiado de urso, leva um cartaz com os dizeres: "humanos podem fazer melhor". Foto:
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Pela primeira vez, um presidente faz o juramento com mais de uma bíblia: a segunda foi presente de sua mãe. Foto: EFE/JUSTIN LANE
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Manifestantes se acorrentam em protesto contra a posse de Trump. Foto: REUTERS/Bryan Woolston
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"Já não aceitamos mais políticos que apenas falam, que estão o tempo todo reclamando, mas que nunca fazem nada para mudar. (...)Vocês não serão mais i... Foto: Doug Mills/The New York TimesMais
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Barack e Michelle Obama durante a carimônia de posse. Foto: REUTERS/Carlos Barria
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Minutos antes de ser chamado na cerimônia de posse. Foto:
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Manifestante faz um boneco de Donald Trump. Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Visão geral da cerimônia de posse, no Capitólio, no momento em que Trump faz o juramento e se torna o 45º presidente dos EUA. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Candidata à presidência derrotada, e ex-primeira-dama, Hillary Clinton cumprimenta Melania Trump, a nova primeira-dama. Foto: REUTERS/Yuri Gripas
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Protesto anti-Trump mostra cartaz com a cara de Trump ao fundo e a explicação de cultura do estupro: "sociedade ou ambiente que normaliza o abuso sexu... Foto: Mais
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Já empossado, Donald Trump deixa a cerimônia ao lado de Barack Obama. Foto: AFP PHOTO / POOL / J. Scott APPLEWHITE
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Eleitora de Trump acompanhaa cerimônia de posse. Foto:
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Uma protestante em frente ao cordão policial Foto: AP Photo/John Minchillo
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Agora ex-presidente, Barack Obama acena antes de entrar no helicóptero que o levou para a base aérea, onde pegou um avião para a California. Foto: AFP PHOTO / JIM WATSON
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Trump beija seu filho Eric Trump, após a cerimônia de posse Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Um dos mais de cem detidos no confronto entre manifestantes e polícia, na possa de Trump Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Presidente e a primeira dama, Melania Trump, no almoço inaugural em Washington. Foto: REUTERS/Yuri Gripas
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Protestantes tentaram passar pelo bloqueio da polícia e entrar onde pessoas assistiam a cerimônia. Foto: Mario Tama/Getty Images/AFP
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Família de Trump e líderes do Congresso acompanham o recém-empossado presidente assinar as nomeações no gabinete da presidência do Senado. Foto: Scott Applewhite / POOL POOL
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Polícia atira gás de pimenta contra protestantes Foto:
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Trump cercado de lideranças do Congresso norte-americano. Foto: EFE/EPA/J. Scott Applewhite / POOL
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Manifestanteusa máscara do Anonymous Foto:
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Presidente quebra protocolo e desce do carro, no caminho para a Casa Branca Foto: AP Photo/Carolyn Kaster
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De um lado da avenida, manifestantes protestam contra Trump Foto: EFE/EPA/KEVIN DIETSCH / POOL
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De outro, eleitores de Trump comemoram sua posse Foto: EFE/EPA/KEVIN DIETSCH / POOL
Trump presidente
Presidente Donald Trump e primeira-damaMelania Trump acenam para a plateia Foto: REUTERS/Evan Vucci/Pool
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Protestantes queimam e quebram os vidros de uma limosine. Na lateral, se pode ler: "Nós, o povo" Foto: Victor J. Blue/The New York Times
Estamos vendo uma inversão, com a China defendendo o sistema internacional e Trump questionando sua utilidade? A dúvida hoje é se os EUA mudarão sua atitude em relação a instituições criadas sob sua liderança. Podemos mencionar o Nafta, a Parceria Trans-Pacífico, o Acordo de Paris e a estrutura de alianças como a Otan e os tratados com o Japão e a Coreia do Sul. Trump diz que a China não faz o bastante para pressionar a Coreia do Norte a abandonar o programa nuclear. Ela pode fazer mais? Sim, mas a questão é se os chineses acreditam que fazer mais atende a seus interesses. O primeiro objetivo da China é a estabilidade. Eles não querem a desintegração da Coreia do Norte, que levaria milhões de refugiados ao nordeste do país. A desnuclearização é o segundo objetivo de Pequim. Para os EUA, é a prioridade. O problema é que qualquer coisa que não provoque instabilidade não será suficiente para forçar os norte-coreanos a abandonar suas armas nucleares. Como o sr. interpreta a posição mais amigável de Trump em relação à Rússia? Não sei como interpretar, mas ela é uma inversão do curso que levou à aproximação entre EUA e China no governo Richard Nixon. Naquele caso, os dois países se aproximaram para pressionar a União Soviética. Agora, os russos e os chineses se aproximaram em resposta à expansão da Otan e ao eixo para a Ásia adotado pelos Estados Unidos a partir de 2011. Ao se mover na direção da Rússia, o novo presidente pode estar tentando trazer a Rússia para perto e deixara a China em uma posição mais isolada.