‘Há uns 10 anos, muitos problemas na Bolívia têm sido escondidos’
Para pesquisador social, próximo presidente enfrentará déficit fiscal crescente e reservas internacionais em queda
Entrevista com
Roberto Laserna, pesquisador social da Ceres
Entrevista com
Roberto Laserna, pesquisador social da Ceres
21 de outubro de 2019 | 10h30
Os bolivianos foram às urnas nesse domingo, 20, e, de acordo com resultados divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral, o presidente Evo Morales obteve 43,9% dos votos, enquanto o ex-presidente Carlos Mesa conquistou 39,4%, apuradas 100% das urnas em uma contagem rápida. Os dois candidatos disputarão um segundo turno dentro de 60 dias, pois nenhum obteve 50% dos votos ou 40% mais uma diferença de 10 pontos sobre o segundo mais votado.
Os resultados são provisórios e os definitivos devem demorar alguns dias. Para Roberto Laserna, pesquisador social da Ceres, Evo vai ao segundo turno pois sua imagem sofreu um grande desgaste. Confira a entrevista abaixo.
Evo Morales tenta 4º mandato na Bolívia
A imagem de Evo perante aos bolivianos caiu muito, se desgastou. As pessoas estão cada vez mais resistentes e com a percepção de que as promessas feitas por ele não foram cumpridas. As tarefas com as quais ele se comprometeu não foram realizadas. A campanha não foi suficiente para esconder todos os problemas. Evo está em campanha há muito tempo, mas as pessoas não viram as melhoras em saúde, educação e outros áreas.
Uma parte importante dos indígenas votou em Evo, principalmente nas áreas rurais onde ele tem força muita grande. Mas a imagem dele frente aos indígenas sofreu um baque com os incêndios na região da Chiquitania (vastas planícies no leste da Bolívia).
Em 2016, houve um referendo para decidir se Evo poderia ou não disputar reeleição pela quarta vez, e ele foi derrotado. Esse pleito deixou na mente das pessoas a ideia de que o presidente não é invencível. A força de Mesa está no fato de ele ser o candidato de oposição a isso. Não porque confiam nele, mas porque ele é quem pode tirar Evo do poder. Sua força está no que ele representa hoje.
A maioria desses candidatos apelava para o voto conservador, pedindo uma economia mais aberta, com menos participação do Estado. Creio que grande parte desses votos foi para Mesa.
A economia. Há uma quantidade enorme de problemas que serão apresentados ao próximo presidente e o obrigará a realizar modificações nas políticas econômicas, o que deve trazer dificuldades e pode até gerar protestos.
Há uns cinco anos, o déficit fiscal está crescendo. As reservas internacionais despencaram para a metade do que eram em 2014 e estão caindo muito rapidamente. O preço do dólar está muito alto e as exportações estão em queda. Há uns 10 anos, muitos problemas têm sido escondidos.
Ele recorrerá a todos os recursos possíveis. Mas não sei o que ele pode fazer para conquistar mais eleitores. Evo está há três anos em campanha, viajando com aviões exclusivos e recursos dos ministérios. Mesa sofreu agressões durante a campanha. Atacaram sua família, seu passado, suas contas. Isso deve marcar os próximos dois meses. Será uma campanha muito suja e dura.
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