PORTO PRÍNCIPE - Uma disputa por poder está ganhando força no Haiti porque o homem nomeado primeiro-ministro dois dias antes do assassinato do presidente Jovenel Moise disse que ele – e não o premiê interino Claude Joseph – deveria liderar a nação.
Ariel Henry, um neurocirurgião de 71 anos, que foi nomeado primeiro-ministro por Moise na segunda-feira, afirmou: “Após o assassinato do presidente, eu me tornei a maior autoridade legal porque houve um decreto me nomeando”, afirmou Henry. Henry ainda não havia tomado posse para substituir Joseph no momento do assassinato, o que criou confusão sobre quem é o legítimo líder de 11 milhões de pessoas no Haiti, que divide a ilha de Hispaniola com a República Dominicana.
O ministro eleitoral Mathias Pierre afirmou que Joseph continuará no cargo até a realização de novas eleições presidenciais e legislativas em 26 de setembro. Mas Henry afirmou que está formando um governo e ele criará um novo conselho eleitoral, pois o atual é considerado muito partidário, e esse conselho determinará uma nova data para as eleições.
A Constituição de 1987 do Haiti estipula que o líder da Suprema Corte deve assumir como presidente interino, mas emendas que não são reconhecidas por todos dizem que seria o primeiro-ministro ou, no último ano do mandato do presidente – como no caso de Moise – o Parlamento deveria eleger um presidente.
Para complicar ainda mais a situação política no país, o líder da Suprema Corte morreu mês passado de covid-19, em meio a um surto em um dos poucos países do mundo que ainda não começou uma campanha de vacinação. Também não há um Parlamento eleito, pois as eleições legislativas marcadas para o fim de 2019 foram adiadas por distúrbios políticos.
Pouco depois do ataque, o primeiro-ministro interino Joseph declarou estado de sítio por quinze dias, concedendo ao Executivo maiores poderes.
Enquanto a oposição acusa Joseph de tomar o poder, a enviada da ONU ao Haiti, Helen La Lime, considerou que ele é a autoridade legítima, já que Henry não chegou a prestar juramento.
Proteção.
Envolto em um clima de instabilidade, o Haiti pediu na sexta-feira aos EUA e à ONU o envio de tropas para proteger pontos estratégicos, como portos e aeroportos. As autoridades temem um possível ataque, para provocar o caos, dos seis mercenários envolvidos no assassinato do presidente que ainda estão foragidos. O Haiti tenta determinar quem ordenou o assassinato, supostamente executado por um esquadrão formado por 26 colombianos e 2 americanos de origem haitiana
O Departamento de Estado e o Pentágono confirmaram ter recebido um pedido de "assistência de segurança e investigação" e disseram que estavam em contato com Porto Príncipe, mas não especificaram se tropas militares seriam enviadas.
Uma fonte diplomática da ONU disse ter recebido o pedido, mas uma resolução do Conselho de Segurança é necessária para enviar um contingente.
Washington já disse que enviará o FBI (polícia federal) e outros agentes ao Haiti o mais rápido possível, onde o assassinato de Moise deixou um vácuo de poder na conturbada e empobrecida nação caribenha. / REUTERS e AFP