Haitianos elegem hoje o ''reconstrutor'' do país

Vencedor do segundo turno da eleição presidencial será o responsável por aplicar os bilhões de dólares em doações e ajudar 1 milhão de desabrigados

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Por Roberto Simon
Atualização:

A atenção dos haitianos está voltada a uma antiga academia de ginástica, que ainda guarda, entre colunas greco-romanas, logotipos com escritos "Gold"s Gym" e desenhos dourados de halterofilistas. É lá que funciona a Comissão Eleitoral Provisória (CEP), órgão que dará a palavra final sobre quem será o próximo presidente do Haiti, tentando encerrar uma trágica sequência de eventos na história do país.Da convocação da eleição até o segundo turno, que ocorre hoje, o Haiti viveu um terremoto com centenas de milhares de mortos, uma inédita epidemia de cólera, uma fraude eleitoral e, agora, o retorno de dois polêmicos ex-presidentes - Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", e Jean Bertrand Aristide. Com esse peso sobre as costas, haitianos escolherão entre o cantor e novato na política Michel Martelly e a ex-primeira-dama e professora Mirlande Manigat. Um dos dois será o responsável por aplicar bilhões de dólares de doações internacionais na reconstrução e iniciar um novo capítulo na vida política do Haiti.A uma quadra da academia convertida em tribunal eleitoral, cerca de 800 famílias que perderam tudo no terremoto vivem em barracas improvisadas no que antes era uma das principais praças de Porto Príncipe. Leonardo Louis, de 17 anos, é um dos desabrigados que passam o dia olhando o trânsito caótico da capital e jogando conversa fora. Ao todo, um milhão de haitianos ainda estão na mesma situação."Antes viviam aqui 1.400 famílias, mas algumas receberam da prefeitura 20 mil goudes (US$500) para ir embora", explica Leonardo, que perdeu o pai e irmã no terremoto. O jovem - que ganhou o nome de "Leonardo" por causa do amor do pai pelo futebol brasileiro - estava no quintal quando sua casa ruiu. "O dinheiro não dá para construir uma casa, mas dá para alugar um quarto. Se me oferecerem, aceito."

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