Hamas apoia pedido de Abbas na ONU em raro sinal de união entre palestinos

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Por GAZA
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Autoridade Palestina (AP) e Hamas deram ontem novos sinais de reaproximação. Enquanto a AP anunciou a libertação de membros do grupo rival detidos na Cisjordânia, o líder do Hamas, Khaled Meshal, afirmou que apoia a tentativa do presidente da AP, Mahmoud Abbas, de obter na ONU o status de Estado observador para a Palestina - o pedido deve ser formalizado na quinta-feira. O primeiro gesto de aproximação ocorreu na semana passada, quando Abbas telefonou para o primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniyeh, para felicitá-lo pela "vitória" e oferecer condolências pelos "mártires" do conflito contra Israel. Três dias depois, Taher al-Nunu, porta-voz do Hamas, disse que o grupo decidiu perdoar 22 membros da Fatah - facção da AP liderada por Abbas - que estão presos na Faixa de Gaza. A decisão do Hamas de apoiar o pedido palestino por um novo status na ONU surpreendeu, já que o grupo islâmico não reconhece o Estado de Israel e sempre criticou o esforço de Abbas de defender a causa palestina pela via diplomática. Atualmente, os palestinos são considerados uma "entidade" observadora na ONU, com direito a voz, mas não a voto. No ano passado, Abbas tentou obter a adesão como membro pleno da organização, mas o pedido foi engavetado pelos EUA no Conselho de Segurança. Aprovação. No entanto, para obter a simples promoção de entidade para Estado observador, os palestinos não precisariam da aprovação do Conselho de Segurança - basta que obtenham a maioria dos votos dos 193 membros da Assembleia-Geral da ONU. Como 131 países já reconheceram o Estado palestino e 107 votaram em favor da inclusão da Palestina como membro pleno da Unesco, em dezembro do ano passado, espera-se que a o pedido de Abbas seja aprovado com folga. A expectativa dos palestinos é a de obter cerca de 150 votos na Assembleia-Geral. Israel pretende atenuar ao máximo a "derrota" e diplomatas do país trabalham freneticamente para convencer alguns países a optar pelo menos pela abstenção e se dariam por satisfeitos se o número de votos favoráveis ficasse em torno de 120. A delegação palestina, liderada por Abbas, deve chegar hoje aos EUA. Ontem, o porta-voz do Hamas Sami Abu Zuhri afirmou que o grupo apoia qualquer ganho político que Abbas possa alcançar na ONU "desde que não cause nenhum dano aos direitos nacionais dos palestinos". A decisão havia sido comunicada ao líder da AP pelo próprio Meshal, que lhe contou sobre a inesperada mudança de posição em um telefonema na semana passada. O conflito entre o Hamas, grupo islâmico com forte base na Faixa de Gaza, e a Fatah, facção secular da Cisjordânia, se agravou em dezembro de 2006, quando o Hamas venceu as eleições legislativas e expulsou comandantes da Fatah que viviam em Gaza, assumindo o controle completo sobre o território. Desde então, os dois lados já protagonizaram algumas tentativas de reconciliação, todas fracassadas. Desta vez, assim como em outras ocasiões, a opção pelo diálogo pode trazer problemas para o Hamas, especialmente em razão da intransigência de sua ala mais radical. No sábado, Mahmoud al-Zahar, um dos dirigentes políticos mais influentes do grupo, pediu que Abbas não fosse para Nova York. De acordo com ele, a iniciativa diplomática significaria a "desistência" de algumas reivindicações históricas dos palestinos.Negociações. No Cairo, em outra frente diplomática, membros do Hamas e diplomatas israelenses avançaram ontem no acordo de cessar-fogo mediado pelo Egito. Autoridades egípcias começaram a conversar separadamente com representantes dos dois lados para acertar os detalhes do acordo, firmado na semana passada, que pôs fim a oito dias de confrontos na Faixa de Gaza. Um funcionário do governo egípcio disse que constam da pauta as exigências palestinas a respeito da abertura de mais passagens para os habitantes de Gaza, medida que ajudaria a pôr fim ao bloqueio imposto ao território governado pelo Hamas. O texto da trégua estipula que questões como o acesso às fronteiras, liberdade de movimento para a população de Gaza e a movimentação de bens seriam tratadas dentro de "24 horas" - o que ainda não havia ocorrido. Até agora, Israel levantou algumas limitações de importação e exportação, mas ainda barra a entrada de uma longa lista de produtos, incluindo itens necessários à construção civil, que poderiam, segundo os israelenses, ser usados para a fabricação de armas. / REUTERS, AP e AFP

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