Hamas dá demonstração de força ao celebrar 25 anos na Faixa de Gaza

Movimento reitera necessidade de resistência armada contra Israel e prega união palestina.

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Por Yollande Knell
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Diante de um verdadeiro "mar verde", a cor simbólica dos palestinos, e ao lado de um modelo enorme do mesmo míssil lançado contra Tel Aviv e Jerusalém, lideranças do Hamas deram uma importante demonstração de força no dia em que o movimento islâmico completou 25 anos. O líder político do grupo, Khaled Meshaal, retornou de mais de 40 anos de exílio e fez sua primeira aparição em frente a milhares de palestinos em décadas, acompanhado do primeiro-ministro do movimento, Ismail Haniyeh. Dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Kattiba entoando hinos nacionalistas e vestidas de verde da cabeça aos pés. Muitas crianças também vestiam uniformes militantes e carregavam armas de brinquedo. Fortalecido após o último grande combate com Israel, o movimento aproveitou a celebração do seu primeiro quarto de século para reiterar os objetivos que levaram a'sua fundação, entre eles a rejeição ao Estado israelense. Diante do modelo do míssil, com a inscrição "Made in Gaza", Khaled Meshaal deixou claro que a luta contra o vizinho ao norte continua. "Nós não vamos desistir de nenhum centímetro da Palestina. Continuará sendo uma terra islâmica e árabe para nós e para mais ninguém. A jihad [guerra santa] e a resistência armada são o único caminho", alertou em frente à multidão. Ele disse que continuaria pressionando pela libertação dos palestinos presos em cadeias israelenses e mencionou a troca de prisioneiros realizada no ano passado, quando um soldado de Israel foi trocado por mais de mil palestinos. União palestina Também houve referências à necessidade de mais união entre os palestinos. A Faixa de Gaza é governada pelo Hamas desde 2007, e a Cisjordânia, governada pelo Fatah, é sede da ANP (Autoridade Nacional Palestina) e da OLP (Organização pela Libertação da Palestina). Os dois grupos vêm mantendo uma relação conturbada nos últimos cinco anos e esta é a primeira vez desde então que membros do Fatah comparecem a um evento do Hamas. "Após a vitória de Gaza, é chegada a hora de encerrar este capítulo de divisão e construir a unidade palestina. A reconciliação significa uma plataforma política unificada, uma autoridade, um presidente e um Parlamento", disse. Há um consenso generalizado de que os esforços para encerrar a ocupação israelense dos territórios palestinos são minados por essas divisões políticas internas. Entretanto, o tom do discurso de Meshaal trouxe à tona outro fator que pode ser um obstáculo à união palestina. Caso ele insista na importância da resistência armada, Mahmoud Abbas, o presidente moderado da ANP, considerado um interlocutor para a paz por Israel e pelas potências ocidentais, não poderá aceitar o estreitamento das relações. O Hamas é visto oficialmente pelos israelenses e americanos como um grupo terrorista, enquanto Abbas e seu governo na Cisjordânia são enxergados como aptos a dialogar pela paz na região. Divisões entre o próprio Hamas não foram tema do pronunciamento. Sabe-se que Meshaal já manifestou a intenção de deixar seu posto de liderança e a viagem à Gaza pode ser uma oportunidade de concluir o processo de transição. O evento também deixou claro o apoio ao grupo na região. Delegações do Catar, Bahrein, Turquia e Malásia, além do Egito, foram enviadas à comemoração, algo possível graças à passagem de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, aberta pelo governo egípcio para o evento. Israel, que mantém conversações indiretas com o Hamas desde o último confronto, encerrado pelo Egito com a mediação de um cessar-fogo, deve receber as notícias do evento com preocupação. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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