Hamas pode se ver em vantagem nos confrontos com o Fatah

De acordo com analistas, se houver uma guerra civil palestina, as forças do Hamas estariam em vantagem sobre os grupos leais ao presidente Mahmud Abbas, do Fatah

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Por Agencia Estado
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De acordo com diplomatas e analistas, se uma guerra civil palestina irromper as forças organizadas e bem equipadas do Hamas estariam em posição de vantagem sobre os grupos leais ao presidente Mahmud Abbas, do Fatah. Eles disseram que os combatentes da chamada força executiva do Hamas e do braço armado do grupo islâmico, as Brigadas Qassam, estariam mais engajados numa batalha prolongada. Gaza, área densamente povoada e bastião do Hamas, provavelmente seria o principal campo de batalha. Os combates entre facções palestinas rivais se intensificaram no domingo depois que Abbas convocou novas eleições, o que enfureceu o Hamas, que assumiu o governo em março depois de derrotar o Fatah nas urnas. De acordo com analistas, o confronto deve ser visto como uma guerra de representação entre Estados Unidos, que tentam fortalecer a guarda presidencial de Abbas, e o Irã, que apóia o Hamas. "O que os distingue (a força executiva do Hamas) é o fato de estarem altamente comprometidos politicamente e serem leais a uma causa e não a um líder", disse Mouin Rabbani, experiente analista do Grupo de Crises Internacionais. Importantes autoridades israelenses disseram que sua decisão, na semana passada, de impedir o primeiro ministro Ismail Haniyeh, do Hamas, de entrar com US$ 35 milhões em Gaza, decorreu em parte da preocupação de que o dinheiro se destine à força executiva, acusação que o Hamas nega. Washington deseja que os fundos retidos sejam redirecionados para a guarda presidencial de Abbas e, na semana passada, a Secretária de Estado americana Condoleezza Rice disse que o governo fornecerá dezenas de milhões de dólares para aprimorar as forças de Abbas, dependendo apenas de aprovação do Congresso. Rabbani disse que qualquer conflito "será visto certamente, pelo menos em parte, como uma guerra de representação, por Estados Unidos e Irã". Com apoio de Washington, a guarda presidencial de Abbas já foi ampliada para quase quatro mil membros. Apesar do tamanho relativamente pequeno, ela é considerada a força melhor equipada e treinada dos territórios palestinos. Hamas tem vantagem O Hamas expandiu rapidamente sua força executiva para quase seis mil membros, prometendo que no futuro o efetivo será aumentado, não incluindo nesse número os milhares de combatentes que formam seu braço armado. "Sabemos que a força executiva é bem eficiente, bem organizada, enquanto que as forças do Fatah estão bastante exauridas", salvo no caso da guarda presidencial, disse um diplomata ocidental envolvido na área da segurança. Outro diplomata ocidental, que trabalhou no gabinete de Abbas em assuntos de segurança, disse, no caso de uma guerra em Gaza, o Hamas estaria em vantagem porque o Fatah tem uma estrutura de comando menos centralizada. Para analistas os amplos serviços de segurança do Fatah, incluindo a segurança preventiva, deterioraram desde que o Hamas assumiu o poder em março. A segurança preventiva ficou bastante prejudicada por uma série de assassinatos ocorridos recentemente e pela decisão de Washington de trabalhar exclusivamente com a guarda presidencial, que não tem nenhum vínculo com o Hamas. Zakaria al-Qaq, especialista em segurança na Universidade de al´Quds, disse que o confronto entre as forças do Fatah e do Hamas pode se intensificar a ponto de ficar fora de controle, por causa da obediência e lealdade concorrentes entre as facções e clãs dentro da sociedade de Gaza. "Não há fronteiras definidas. Você tem que se sobrepor à lealdades aos clãs, à vingança entre famílias. Se quiser pôr um fim nisso, não será fácil", disse. Uma assistência ocidental patente para a guarda presidencial também pode ter efeito contrário, pois permitirá ao Hamas acusar Abbas de ser um líder árabe servindo aos interesses dos Estados Unidos, disse al-Qaq. "E isso não vai ajudar na imagem de Mahmud Abbas", acrescentou. Desde que assumiu o poder, em março, o Hamas angariou pelo menos US$80 milhões, dinheiro trazido em mãos, de fora para Gaza, através da fronteira de Rafah, dizem diplomatas que monitoram essa região fronteiriça. A força executiva, instalada pela primeira nas ruas de Gaza pelo governo do Hamas em maio, é formada na maior parte por membros das Brigadas, mas conta também com membros de facções militantes aliadas. Mas o Hamas não revelou de onde vem o dinheiro, armas e equipamentos, recebidos por essa força. Eleições Se o Hamas apresenta vantagem em uma possível guerra, o Fatah tem a preferência da população palestina nas eleições. Uma pesquisa conduzida pelo Centro Palestino para Política e Pesquisa Analítica, divulgada neste domingo, mostra que, se as eleições legislativas na Autoridade Palestina fossem realizadas hoje, o grupo islâmico seria derrotado pelo partido do presidente Mahmud Abbas. Segundo o levantamento, o Fatah teria 42% dos votos e o Hamas, 36%. A mesma pesquisa revelou um empate técnico entre Abbas e o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, do Hamas, no caso de uma nova eleição presidencial. O primeiro teria 46% dos votos, ante 45% do segundo. O levantamento foi realizado entre os dias 14 e 16 de dezembro, antes de Abbas anunciar a antecipação das eleições presidenciais e legislativas palestinas. "Está claro que o apoio da população às eleições antecipadas é um protesto tanto contra o Hamas quanto contra o presidente Abbas", disse Khalil Shikaki, diretor do centro que fez a pesquisa. Apesar disso, segundo ele, Abbas pode ser favorecido pela decisão de convocar novas eleições. Morteiros Homens armados dispararam neste domingo dois morteiros contra o escritório do presidente Mahmoud Abbas, em Gaza, ferindo pelo menos cinco membros de sua guarda pessoal. O ministro das Relações Exteriores, Mahmoud al-Zahar, um importante líder do Hamas, acusou as forças de Abbas de tentar empreender um "golpe militar" em Gaza, depois que elas tomaram dois ministérios sob controle do movimento islâmico. O presidente não estava em Gaza no momento do ataque. As forças de Abbas haviam anteriormente isolado a área ao redor de sua casa em Gaza e confrontaram-se com homens armados do Hamas. Uma mulher de 19 anos foi baleada durante um tiroteio entre o Hamas e a Fatah perto do complexo presidencial e acabou morrendo, disseram fontes hospitalares. Pelo menos 15 outras pessoas ficaram feridas em diversos outros enfrentamentos, incluindo um jornalista francês. Matéria alterada às 18h35 para acréscimo de informações Com EFE e AP

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