Crise econômica faz hambúrguer custar US$ 170 na Venezuela
Enquanto no câmbio oficial 10 bolívares valem US$ 1, no mercado negro este vale 1 mil bolívares. Venezuelanos fazem filas em lojas de mantimentos para comprar a refeição mais barata
Por Redação
Atualização:
CARACAS - Se um turista estiver desprevenido e contar apenas com um cartão de crédito internacional, pagará mais caro na Venezuela por itens básicos do que em Tóquio ou em Zurique. Um hambúrguer custa 1,7 mil bolívares, o equivalente a US$ 170 no câmbio oficial de 10 bolívares por dólar, e a diária em um hotel, 69 mil bolívares, ou seja, US$ 6,9 mil.
Obviamente, nenhum comerciante precifica seus produtos usando como referência a taxa oficial, mas sim a do mercado negro, no qual um dólar vale 1 mil bolívares. Para os venezuelanos que ganham em bolívares, as coisas também são absurdamente caras, em razão da hiperinflação em uma economia altamente dependente das importações.
Crise na Venezuela: escassez de alimentos se agrava
1 / 8Crise na Venezuela: escassez de alimentos se agrava
Crise na Venezuela: escassez de alimentos se agrava
"Tenho que sair de casa às 5 da madrugada, sob risco de ser morto, para enfrentar filas o dia inteiro e só voltar com dois ou três itens de comida", r... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
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"Estamos comendo menos porque não encontramos nos mercadose, quando elas estão disponíveis, as filas são infernais e não conseguimos comprar. Atualmen... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
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"Estamos há cerca de 15 dias comendo pão com queijo ou arepa - prato típico venezuelano - com queijo. Hoje, nos alimentamos pior do que antigamente po... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
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"Estamos nos alimentando muito mal. Por exemplo, se temos farinha de milho comemos arepas o dia todo. Mesmo quando temos dinheiro não encontramos comi... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
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"Antes, conseguíamos comprar comida para até 15 dias. Hoje, só cobrimos nossas necessidades diárias", dizRomulo Bonalde. Ele e a mulherMaria de Bonald... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
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"Comer se transformou em algo de luxo (na Venezuela). Antes, nosso dinheiro comprava roupas e outros ítens. Hoje, vai tudo em comida", apontaYaneidy G... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
Crise na Venezuela: escassez de alimentos se agrava
Montagem com série de geladeiras de venezuelanos que sofrem com a falta de alimentos em razão da crise econômica vivida pelo país; em todas, sobra esp... Foto: REUTERS/Carlos Garcia RawlinsMais
Crise na Venezuela: escassez de alimentos se agrava
"Somos uma família grande e está cada vez mais difícil para conseguirmos comer", dizRicardo Mendez (2º à esq.) Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
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Até mesmo para a classe média, que desliza para a pobreza, um hambúrguer ou uma noite em um hotel estão fora de seu alcance. "Todo mundo está caindo. Não conseguimos respirar", conta Michael Leal, de 34 anos, gerente de uma ótica.
Em Chacao, bairro da classe média de Caracas, um grupo de funcionários públicos faz fila em uma loja de mantimentos para comprar o almoço mais barato possível. Ao redor, os restaurantes estão vazios.
Vista de cima, Caracas se parece com qualquer outra cidade da América Latina, com arranha-céus, autopistas de tráfego intenso e pedestres que caminham apressados.
Mas um olhar um pouco mais atento revela um profundo mal-estar econômico. Muitas lojas, especialmente de produtos eletrônicos, baixaram as portas."Está horrível agora", diz Marta González, de 69 anos, dona de uma loja de produtos de beleza."Não há compras, só se compra comida", prossegue a mulher, enquanto atende uma cliente que paga com cartão de débito um par de lâminas de barbear descartáveis. Um cartaz colado no caixa indica: "Não aceitamos cartões de crédito".
Filas. No mesmo bairro, um moderno e requintado shopping center com vários restaurantes com terraço, um espaçoso Hard Rock Café e lojas de redes internacionais como Zara, Swarovski e Armani Exchange está deserto, exceto pela presença dos funcionários. Por outro lado, cerca de 200 pessoas fazem fila pacientemente para entrar em uma farmácia.
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Elas não sabem exatamente o que vão comprar, mas é a rotina destes tempos: fazer fila para tentar adquirir algum produto de higiene pessoal com preço controlado, como por exemplo pasta de dentes, antes que acabe, o que costuma acontecer em poucos minutos.
Descaso e morte nos hospitais de Maduro
1 / 8Descaso e morte nos hospitais de Maduro
Crise de saúde na Venezuela
Sem antibióticos, adiabética Rosa Parucho teve a perna amputada em um hospital de Puerto La Cruz Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Nicolas Espizona observa a filha de 5 anos, que tem câncer, em hospital em Puerto La Cruz, na Venezuela. Não há remédios para a doença no local Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Incubadoras quebradas são amontoadas em uma sala de um hospital em Puerto La Cruz, na Venezuela Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Manchas de sangue em maca do Hospital Luis Razetti, em Puerto La Cruz, no litoral da Venezuela Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Pacientes aguardam atendimento em corredor de um hospital superlotado em Mérida, na Venezuela Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Garrafas de água são usadas de maneira em camas hospitalares em hospital de Puerto La Cruz, na Venezuela Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Pacientes esperam por atendimento no pronto-socorro de um hospital em Puerto La Cruz, na Venezuela Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Crise de saúde na Venezuela
Venezuelanos chegam a esperar horas por uma cirurgia em hospitais da rede pública Foto: Meridith Kohut/The New York Times
"Fazemos isto todas as semanas. Não sabemos o que vamos poder comprar", diz Kevin Jaimes, vendedor de autopeças de 21 anos, que aguarda a sua família. "O difícil é quando tem uma fila gigante e tudo está esgotado antes de chegarmos", continua.
Quando não se consegue adquirir os produtos com preço controlado nos mercados, a única alternativa é recorrer aos revendedores no mercado negro, que cobram 100 vezes mais.
Jaimes vive com a família - um total de sete pessoas - e tenta se virar com um salário de 35 mil bolívares ao mês, o que corresponde a US$ 35. É muito pouco para que possa sequer pensar em ir uma vez ao cinema do shopping, por exemplo, onde a entrada custa 8,8 mil bolívares. /AFP