Hamid Karzai é favorito à reeleição no Afeganistão

Apesar de críticas contra o seu governo, presidente afegão deve garantir segundo mandato

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Pashtun, como a maioria dos afegãos, poliglota e formado no Ocidente, Hamid Karzai voltou a mostrar sua habilidade política mantendo-se como favorito para um segundo mandato nas eleições desta quinta-feira, 20, apesar das críticas contra o seu governo nas questões de segurança e na luta contra a corrupção. Karzai viu recompensado seu apoio aos bombardeios americanos a forças do Taleban quando assumiu o governo interino do país após a invasão comandada pelos Estados Unidos que derrubou o Taleban, em 2001. Ele ainda venceu as primeiras eleições no país, em 2004, com 55% dos votos, quase 40% a mais do que o segundo colocado.

 

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Aliado do ex-rei Zahir Shah e oposicionista declarado do antigo regime, já foi vice-ministro de Relações Exteriores e possui qualidades que agradam às diferentes facções. Como é pashtun do sul do Afeganistão, Karzai é aceito pelos afegãos da etnia dominante do país, e obteve o apoio de várias minorias, como tajiques, uzbeques e hazaras. Como é partidário do ex-rei - deposto em 1973 e desde então exilado em Roma -, conta também com o apoio dos monarquistas. Finalmente, se beneficia de seu passado de combatente contra a ocupação soviética, um dado apreciado pelos velhos mujahedin.

 

Karzai viveu exilado em Peshawar (Paquistão) até 1992, quando voltou a Cabul como vice-ministro de Relações Exteriores após a queda do regime pró-soviético. Depois da derrota dos soviéticos, ocupou vários postos no governo de Burhanudin Rabani. Mas desiludiu-se com a incapacidade dos mujahedin para administrar o país. Por isso, num primeiro momento, viu com bons olhos a chegada dos taleban. Mas os novos governantes não cumpriram promessas feitas de convocar a Loya Jirga (conselho de notáveis) para decidir o futuro do país. Karzai então rompeu com o movimento e passou para a oposição. Em represália, o Taleban assassinou seu pai, Abdul Ahad Karzai, chefe do clã popalzai, muito influente no sul.

 

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Em 1995, o Taleban convidou Karzai para ser seu representante permanente nas Nações Unidas. Mas a essa altura, ele estava desiludido com o movimento religioso porque este passara a ser controlado pelo vizinho Paquistão. Até os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, o Paquistão era o mais forte aliado do Taleban. O presidente americano, George W. Bush, ordenou ataques aéreos contra o Afeganistão depois que o Taleban se negou a entregar Osama bin Laden e líderes de sua organização, Al-Qaeda, vinculados aos ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono.

 

A guerra dos Estados Unidos ao terrorismo levou Karzai a pegar em armas pela primeira vez. Ele comandou uma das forças pashtuns que invadiram Kandahar. Karzai e outro pashtun importante, Abdul Haq, entraram secretamente no Afeganistão para ajudar a resistência dos pashtuns ao Taleban. Haq foi capturado e enforcado. Karzai quase foi preso, sendo resgatado por soldados e forças especiais americanos.

 

Conhecido pela sua elegância e boa educação, Karzai fala fluentemente inglês, estudou no exterior e foi chefe das tropas contra a milícia islâmica. Karzai, que se sente tão à vontade num terno e gravata como num turbante e túnica, perdeu muito do seu prestígio junto ao governo dos EUA com a administração Obama, que chegou a lhe fazer críticas - atenuadas posteriormente por falta de alternativa.

 

Na atual campanha, Karzai tenta conquistar o voto de oponentes em potencial e eleitores de grupos étnicos distintos. Ele diz que quer fazer mais nas áreas social e econômica e que deseja preservar e ampliar as conquistas no terreno dos direitos humanos. Porém, enfrenta o criticismo da população por seu fracasso em reduzir a violência, que neste ano atingiu o nível mais alto desde 2001, e no combate ao crime pela corrupção.

 

Durante o tempo em que esteve no poder, Karzai sobreviveu a quatro tentativas de assassinato, e participou de poucos atos públicos durante a campanha pela reeleição - todos sob alta proteção. Ele afirma aos eleitores que suas prioridades são duplicar os efetivos policiais e militares e abrir negociações com os taleban para encerrar a violência no país. O presidente ainda se recusou a participar de um debate televisionado com os seus principais rivais, que colocam em dúvida sua competência para administrar o país.

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