'Havana quer se ver livre dos insatisfeitos', diz especialista

Professor Jaime Suchlicki vê com ceticismo a iniciativa do governo cubano de mudar regras para viagens

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Por Gustavo Chacra e Correspondente em Nova York
Atualização:

NOVA YORK - Poucos cubanos conseguirão bancar o passaporte e, num primeiro momento, talvez tentem ir a países latino-americanos para depois procurar uma forma de entrar nos Estados Unidos. Esta é a avaliação do professor Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade Miami, que vê com ceticismo a iniciativa. Abaixo, leia trechos da entrevista ao Estado.Veja também:linkCuba diminui restrições a viagens, mas mantém brecha para barrar opositorestabela ESPECIAL: Reformas em Cubaforum CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOKEstado: Qual o objetivo do governo cubano com essa medida?Jaime Suchlicki: Primeiro, a lei foi motivada por uma pressão interna de cubanos, que estão insatisfeitos com o regime. Em segundo lugar, o governo de Cuba quer justamente se ver livre dos que estão insatisfeitos.Estado: Diante do preço elevado do passaporte e dos salários baixos dos cubanos, a medida terá algum efeito prático?Jaime Suchlicki: Os brancos com família nos Estados Unidos conseguirão tirar o passaporte e viajar porque possuem mais dinheiro. Mas os negros e os mulatos, que não possuem tantos parentes aqui (na Flórida), dificilmente conseguirão sair. Depois, há a questão do visto. Mesmo que realmente obtenham um passaporte, precisarão de um visto de algum país posteriormente.Estado: A maioria deve ir para os Estados Unidos?Jaime Suchlicki: Os americanos já possuem um acordo com Cuba para fornecer 20 mil vistos por ano e não deve haver alteração. Portanto, a alternativa seria tentar o visto para algum país como Brasil, Venezuela, Colômbia, México ou Argentina. Mas esses governos estarão dispostos a receber cubanos, sabendo que a maior parte deles ficará em seus territórios definitivamente? Será complicado e, mesmo que consigam, os cubanos terão o objetivo de vir para os Estados Unidos, pois é aqui que estão as famílias e as comunidades cubanas.Estado: Ativistas políticos conseguirão viajar?Jaime Suchlicki: Primeiro, temos de lembrar que médicos, militares, cientistas e outras categorias (atletas) não poderão sair normalmente, como os demais cidadãos, segundo a determinação do regime (de acordo com o regime para evitar a "fuga de cérebros"). Os ativistas, provavelmente, tentarão tirar o passaporte e verão seus pedidos adiados, com os funcionários do governo dizendo para eles irem buscar "no mês que vem". Mas esse "mês que vem" nunca chegará.Estado: A decisão do governo cubano deve alterar o cenário eleitoral cubano-americano na Flórida na disputa presidencial em novembro?Jaime Suchlicki: Não acredito que tenha um efeito no resultado. Não é, em termos eleitorais, muito importante. Essa iniciativa é distinta da de Mariel (episódio em 1980 quando dezenas de milhares de cubanos tentaram deixar o país depois de o regime ter liberado a população para ir embora, se quisesse).

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