Havana teme novo ''período especial'' por causa da crise

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Por Ruth Costas
Atualização:

Nos anos 90, quando a economia de Cuba entrou em colapso por causa do fim da ajuda soviética, as autoridades da ilha costumavam se referir aos cortes no suprimento de gás, água e eletricidade como "exercícios de defesa econômica". Mudou o eufemismo, mas o problema é o mesmo. A partir de amanhã, começarão a ser aplicadas as "medidas de exceção" anunciadas na semana passada pelo governo cubano para reduzir o consumo de energia no país em 12% este ano. Inicialmente, o plano é cortar o uso de eletricidade em fábricas, hospitais, escolas e lojas - já na sexta-feira foi feito um teste em Camaguey. Se a meta não for atingida, a Agência de Informação Nacional anunciou que deve recorrer novamente aos "apagões programados". "Estamos acostumados a crises", disse ao Estado, por telefone, a blogueira cubana Yoani Sanchez. "Mas a verdade é que a perspectiva do retorno dos cortes elétricos, de fato, está causando muito alarde." A medida foi tomada em caráter de urgência. A crise econômica global reduziu a expectativa oficial de crescimento de Cuba de 6% para 2,5% este ano e trouxe de volta para a ilha o fantasma do "período especial" - os anos de crise vividos após o fim da URSS, quando cubanos chegaram a substituir seus veículos por carroças. Economistas independentes preveem um crescimento ainda menor, de 1%, e alguns não descartam a possibilidade de recessão. Só com a retração do turismo e a baixa do preço do níquel as perdas podem chegar a US$1 bilhão, segundo a TV oficial. Outro grande problema para Cuba é a incerteza sobre a continuidade da ajuda venezuelana - que teria totalizado US$ 6 bilhões até agora. Hoje, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, paga pelo serviço de 30 mil profissionais cubanos, o que significa uma das maiores fontes de renda do governo da ilha. Professores, médicos e engenheiros trabalham na Venezuela ou países aliados e, em troca, Caracas envia para Cuba 92 mil barris de petróleo diários. "Os venezuelanos também tiveram uma forte queda de sua receita com petróleo e precisam cortar gastos", disse Jorge Sanguinetty, da Associação para o Estudo da Economia Cubana, nos EUA. "Cuba tem dívidas com Caracas e, ainda que os dois países sejam parceiros, Chávez não pode relevar a falta de pagamentos." Pedro Freyre, do Cuba Study Group, com sede em Washington, explica que as dúvidas sobre o abastecimento de petróleo são especialmente complicadas para a ilha porque Havana apostou em um modelo de produção de energia com base em pequenas usinas que funcionam com combustível fóssil.

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